segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Reflexão sobre o plebiscito no Pará

O plebiscito sobre a divisão do Pará já terminou e o resultado foi a vitória do NÃO. A questão foi definitivamente encerrada? A resposta é negativa. Os problemas continuarão e sem que haja qualquer perspectiva de que sejam enfrentados com decisão e vontade política.
O interior do Estado está completamente abandonado. A população é atendida, quando é atendida, de forma precária. Mesmo cidades grandes como Santarém possui péssimo serviço de abastecimento de água, precária rede de esgoto, não há tratamento de lixo, boa parte dos bairros tem pouca infraestrutura, a violência é expressiva principalmente na periferia e por aí vai. Nas cidades pequenas a situação é ainda pior. Isto porque são cidades sem recursos, mas que vivem problemas semelhantes aos das metrópoles. Exemplos: pessoas não possuem casas para morar e o tráfico de drogas é intenso. Em Gurupá, há varias gangues de jovens atuando na sede municipal. Todavia, a força policial é pequena e sem recursos para executar suas atribuições. Na maioria dos lugares a polícia depende das prefeituras ou de comerciantes até para abastecer os carros. A mesma situação pode ser encontrada em Breves e em outras localidades. Agora vejamos:

  • O PMDB governou o nosso estado por 12 anos, de 1983 a 1994;
  • o PSDB de 1995 a 2006 e governará o Pará de 2011 a 2014. Serão 16 anos à frente da administração;
  • O PT governou de 2007 até 2010, foram quatro anos.

O DEM, antigo Partido da Frente Liberal, com exceção do período governado pelo PT, sempre esteve às sombras do poder. Já teve até uma vice-governadora durante o primeiro mandato de Jatene. Por outro lado, o que seria o Estado do Tapajós, caso o SIM tivesse vencido, já esteve no comando do governo. O vice da Ana Julia era daquela região e o atual vice de Jatene também é de lá. O que todos eles fizeram para reverter essa situação precária no interior e na Região Metropolitana de Belém (RMB)? Verdade seja dita: o governo Ana Julia até tentou algo diferente quando dividiu o Estado em 12 regiões administrativas e descentralizou o planejamento. Todavia, esse processo foi definhando ao longo do mandato e o final foi melancólico.
Até 2014 serão 32 anos de governos eleitos democraticamente pela população. Não é tempo suficiente para que o Pará tivesse em situação qualitativamente melhor? E por que não está? Por que temos alguns dos piores Índices de Desenvolvimento Humano do país? Por que a RMB é, segundo estudos do governo federal, a segunda colocada no ranking das piores em qualidade de vida? Ou seja, a situação de abandono é geral. A população sofre na capital e no interior. Claro, a situação fora de Belém é ainda pior.

Por que estou falando tudo isso? Meu objetivo é mostrar que os setores que estiveram a frente das campanhas do SIM e do NÃO são os grandes responsáveis por essa situação. Salame (PPS), Celso Sabino (PR), Lira Maia (DEM), Jatene e Zenaldo Coutinho (ambos do PSDB), "lideranças" que se destacaram na campanha, além de muitos outros que atuaram nos bastidores, todos têm "culpa no cartório. O objetivo deles é galgar cada vez mais espaços de poder em benefício próprio. Essa é a verdade. O "povo que se exploda" como diria a personagem Justo Veríssimo, criada pelo mestre Chico Anísio. Pergunta: podemos ficar a reboque dessas figuras para mudarmos o nosso Estado para melhor?
O plebiscito resultou num aspecto muito positivo: ninguém mais vai aceitar que as coisas permaneçam como estão. Mudanças terão que ser feitas obrigatoriamente. Ocorre que essas mudanças não serão promovidas por quem sempre esteve à frente do aparelho do Estado e nada fez. Ou a população, que sempre os colocou no poder, se conscientiza disso, cobra e participa efetivamente da vida política, ou continuaremos a reclamar e viver sem dignidade.

Um aspecto muito negativo também foi evidenciado durante o plebiscito, mas isso será tratado em outro post. Abraços.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Os rescaldos do plebiscito

No próximo domingo nós paraenses decidiremos se o Pará continuará uno ou se teremos a criação de mais dois novos Estados, nesse caso o Tapajós e o Carajás. Vai ser uma decisão difícil por diversos motivos. Em primeiro lugar porque é inegável que a população interiorana vem sendo relegada a um plano secundário por sucessivos governos. A prestação dos serviços de saúde, abastecimento de água, coleta de esgoto e de lixo (não é possível sequer falar em tratamento), transporte, educação e moradia, entre outros, é muito deficiente. As pessoas se sentem abandonadas e entregues à própria sorte nos travessões da Transamazônica ou da Cuiabá-Santarém. Em segundo lugar porque nem a população da Região Metropolitana de Belém (RMB) ou do que vier a ser o Pará (caso haja a divisão) goza de serviços públicos de qualidade. Segundo estudos do governo federal, a RMB é uma das piores regiões metropolitanas do país em termos de qualidade de vida. Ou seja, aqui também a pobreza e o abandono são grandes, mesmo reconhecendo que a situação é um pouco melhor do que nas demais regiões.

O que é irritante nesse processo de debate sobre a divisão ou não do Estado é cara de pau de muitos políticos, estes sim alguns dos principais responsáveis pela situação a que chegamos, virem à televisão para dizer que as coisas vão melhorar se dividir, e outros dizendo que as coisas já estão mudando.

Entre os defensores da divisão encontram-se parlamentares como Lira Maia (DEM) e Giovanni Queiroz (PDT) que sempre "mamaram nas tetas" oficiais. Estiveram a maior parte do tempo às sombras do poder, beneficiando-se de diversas formas dos governos que apoiaram. Agora vêm a público denunciar uma situação da qual eles mesmos foram cúmplices e responsáveis. Do outro lado, temos Zenaldo Coutinho (PSDB) e Manoel Pioneiro (PSDB) há anos usufruindo das benesses do poder e utilizando a pobreza para garantir suas sucessivas reeleições, ambos nas periferias da RMB. São todos calhordas travestidos de cordeiros. Se tem uma coisa com a qual não estão preocupados é com a situação das populações das diferentes regiões do Pará. Zenaldo quer ser prefeito de Belém. Lira Maia quer ser governador do possível Estado do Tapajós. Giovanni sonha em ser senador, pois sabe que dificilmente seria indicado à disputa pelo comando do Estado do Carajás. Já Pioneiro deseja continuar sendo o insignificante de sempre, mas bem aquinhoado.

Não esqueçamos Simão Jatene que ocupa postos de destaque no Pará desde o final da década de 1970. Ele, portanto, não pode deixar de assumir suas responsabilidades pelo Pará ter um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano do país, mesmo que estejamos entre aqueles que mais contribuem para o PIB brasileiro. Somos um estado rico com uma população pobre. Nossas riquezas servem para enriquecer alguns grupos econômicos do Brasil e do exterior enquanto que à população sobram os impactos negativos da exploração intensiva e inconsequente de nossos recursos naturais.

E o Jader? E o Priante? E o Oti Santos? E o Paulo Rocha? E o Wandekolk Gonçalves? E a Tetê? E o João Salame? E o Antonio Rocha? E a Josefina Carmo? E o Raimundo Santos? E o Megale? E o Pio X? E o Haroldo Martins? E o Tião Miranda? E o Alexandre Von? E a Simone Morgado? E o Parsival? E o Manoel Pioneiro? O que dizer de todos eles e de outros mais? Todos, absolutamente todos, são os grandes responsáveis pela indecente situação de pobreza do povo paraense. Agora, durante a campanha do plebiscito, se transformaram em defensores de "ideais nobres": denunciam a Lei Kandir que repassa as nossas riquezas a preços de "pai para filho", mostram-se horrorizados com o fato de os pobres buscarem ajuda médica em Teresina (PI), Goiás ou Tocantins, indignam-se com a falta de infraestrura. Calhordas!

As demandas das populações do Oeste e do Sul/Sudeste do Pará são legítimas. Não podemos fechar os olhos para isso. A divisão é a melhor alternativa? Há ainda muitas dúvidas quanto a essa questão e a campanha na televisão e no rádio em nada ajudaram a reflexão madura e consequente sobre o assunto. Foi um desperdício de dinheiro!

O que me preocupa é o pós-eleição. Independentemente do resultado do plebiscito o Pará não será mais o mesmo. Creio que o governo Jatene entrará numa espiral de crise. Isto porque a vitória do NÃO vai provocar inúmeros ressentimentos e a recomposição de sua base político-partidária não será fácil. Passará a ser um governo ainda mais questionado nas regiões.

Por falar em ressentimento, isto já pode ser percebido mesmo antes do dia do plebiscito. Viajando por Santarém ouvi diversas frases e piadas semelhantes às que nós paraenses comumente ouvimos quando vamos ao Amazonas, como "aquele povo de Belém" e outras mais. No aeroporto daquela cidade vi dois jovens trocando mensagens pela internet, cujos conteúdos eram racistas, identificando os/as "paraenses" como vagabundos(as) e/ou ladrões. Foi terrível assistir aquilo. A campanha na TV e na rádio (de ambos os lados) atiça ainda mais esse sentimento de disputa.

Se o SIM ganhar o definhamento da base do governo é quase certo. Os ressentimentos também serão evidenciados de diferentes formas entre a população. As disputas pelos cargos que serão criados com a constituição dos novos Estados vai levar os "paraenses" a disputá-los em melhores condições, alimentando ainda mais os conflitos entre os "naturais" e os "invasores". Este é apenas um pequeno exemplo de como os ressentimentos poderão expressar-se.

O plebiscito é uma forma democrática de decisão sobre assuntos relevantes. Pena que este tenha sido manipulado pelo SIM e pelo NÃO para encobrir interesses nefastos à população. O Povo do Pará merecia bem mais do que isto. Seja como for, os grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros deverão ser, mais uma vez, os grandes vencedores do processo... Infelizmente.