segunda-feira, 28 de maio de 2012

A confraria dos canalhas

Vamos fazer um exercício bem simples: Suponha que eu seja uma importante autoridade da República e deliberadamente minto para, mais uma vez, produzir uma crise institucional a fim de ocultar ações e omissões da minha parte que, se descobertas, podem, inclusive, causar o meu impeachment. Como você qualificaria meu ato? Agora imagine que eu seja um jornalista reconhecido e mesmo sabendo que uma notícia publicada por mim omite relevante informação que, se divulgada, comprovaria que o que escrevi não passa de mera armação para tentar ludibriar a opinião pública e, dessa maneira, acabar protegendo criminosos que se infiltraram no aparelho do Estado. Que conceito você teria de mim?


Na minha humilde opinião em ambos os casos as pessoas envolvidas mereceriam ser chamadas de canalhas. Segundo o dicionário, "canalha" significa "pessoa ruim" ou "sem-vergonha". Convenhamos, para realizar os atos descritos acima somente uma pessoa sem qualquer vergonha na cara seria capaz disso.


O Brasil de hoje vivencia uma guerra suja que, infelizmente, a maioria da população não percebe. Uma guerra sem trégua levada a cabo pelas principais empresas de comunicação do país e seus aliados no judiciário e no legislativo. Tudo isso porque a Operação Monte Carlo da Polícia Federal revelou a captura do aparelho do Estado nas suas diferentes instâncias (executivo, judiciário, legislativo e ministério público) por parte do grupo criminoso comandado pelo bicheiro Carlinho Cachoeira. Todavia, as investigações da PF também levantaram fortes indícios de que durante muito tempo houve complacência, e mesmo o estabelecimento de parcerias entre aquele bando e determinados setores da imprensa brasileira.

Tal parceria tinha mão dupla: 1) O bando de Carlinho Cachoeira grampeava ilegalmente autoridades e empresários concorrentes, repassava as informações a um grupo seleto de "empresas jornalísticas" e estas reverberavam em revistas, jornais e nas TVs os áudios e vídeos obtidos de forma criminosa. A quadrilha saia ganhando com a exclusão dos concorrentes de processos licitatórios e de abertura de inquéritos contra os mesmos, assim como com a queda de gestores públicos que de alguma forma contrariavam os interesses do bando; 2) As "empresas jornalísticas" ganhavam cada vez mais espaço na vida pública nacional com a divulgação de escândalos reais e armados, além de colocar sob alta pressão as autoridades do Estado brasileiro considerados seus desafetos.

A promiscuidade entre os interesses da mídia corporativa e da quadrilha de Carlinho Cachoeira fica cada vez mais evidente à medida que as informações levantadas pela PF vão sendo sistematizadas e aprofundadas as investigações. O esforço da "grande imprensa" para abafar as notícias que lhe desagrade tem sido brutal, bem como sua determinação para evitar a todo custo que a CPMI destrinche a parceria criminosa estabelecida entre esta e o bicheiro. Todavia, como não controlam a blogosfera, as informações sobre as "peripécias" daquele bicheiro, do senador Demóstenes, de políticos, empresários e de jornalistas circulam livremente pela rede, rompendo as barreiras erguidas por Marinhos, Frias, Civitas e outros.

Nos últimos anos a sociedade brasileira viveu no fio da navalha de uma crise institucional. É notório que as "famiglias" que comandam os principais veículos de comunicação do país não aceitaram a derrota de Serra e de Alckimin para a presidência da República. Desde então estamos numa espécie de eterno "terceiro turno" das eleições. Para tanto se tornaram a real oposição aos governos Lula e Dilma, já que o PSDB e o DEM estão em frangalhos, posição assumida abertamente pela presidente da Associação Brasileira de Jornais. Contudo, também têm contado com valiosos préstimos de altas figuras do judiciário, cuja última edição do boletim informativo e depreciativo da oposição, mais conhecido como revista VEJA, bem demonstrou.

É essa associação para o crime e para a desestabilização institucional do país que chamamos de "Confraria dos Canalhas". Para identificá-los basta dar uma olhada nos editoriais dos principais jornais, nas matérias dos jornalísticos da noite e dos finais de semana. Ah, também não deixe de acompanhar o que dizem alguns integrantes do judiciário e dos líderes da oposição conservadora no Congresso Nacional.

O Brasil somente será uma democracia quando os itens da Constituição Federal que impedem o monopólio da informação forem efetivamente regulamentados e colocados em prática.

PS: Recomendo a leitura do maravilhoso texto premonitório do jurista Dalmo de Abreu Dallari.
http://www.viomundo.com.br/politica/o-replay-do-leitor-giorgio-dalmo-dallari-sobre-gilmar-mendes.html

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Olhar


Trago em mim
todas as dores
do mundo
a esperança
no futuro
e o olhar atento
por cima
do muro

Guilherme Carvalho
noite de 23/05/2012

sábado, 19 de maio de 2012

Conectado

Minha mente navega
pela imensidão do cosmos.
Meu cérebro está conectado
a todas as estrelas.
Os olhos, por sua vez, irradiam
megatons de pura energia.
Viajo por Escorpião
mergulho em Aquário
vou até Andrômeda
e roubo um facho de luz
para realçar tua beleza.
Flutuo na escuridão infinita
buscando compreender
o próprio sentido da vida.

Guilherme Carvalho
noite de 18/06/2004

sexta-feira, 11 de maio de 2012

QUE ME PERDOEM...

Que me perdoem os justos...
mas este mundo é uma máquina de triturar esperanças.
Que me perdoem os céticos...
mas suas condutas somente reforçam os conservadores e seus planos de dominação.
Que me perdoem os românticos...
mas o amor virou uma mercadoria.
Que me perdoem os fortes...
mas sua fortaleza é fundada no medo.
Que me perdoem os fracos...
mas sua covardia é contagiosa.
Que me perdoem os tementes a Deus...
mas sua fé está na base de muitas guerras.
Que me perdoem os descrentes...
mas a intolerância é um punhal que dilacera.
Que me perdoem os otimistas...
mas sua cegueira é perigosa.
Que me perdoem os pessimistas...
mas seu comodismo é alienante.
Que me perdoem as mulheres..
mas deveriam amar incondicionalmente a si mesmas.
Que me perdoem os homens...
mas deveríamos ser menos homens e mais gente.
Que me perdoem as crianças...
por acharem que deixaremos um mundo melhor para elas.

Guilherme Carvalho
Noite de 11 de maio de 2012.

sábado, 5 de maio de 2012

HERANÇA


Toda vez que vejo meus filhos se divertindo e sem maiores preocupações fico imaginando como eles serão quando crescerem. Certamente, como qualquer pai, quero que eles sejam felizes, honestos e solidários. Dou-lhes carinho, educação e atenção. Dou-lhes comida, os visto e os levo para passear. Mesmo assim duas perguntas não saem da minha cabeça: É o suficiente? O que deixarei para eles?

Quando se trata de filhos é sempre difícil saber se fizemos o suficiente. O mais provável é que uma sensação de que se podia fazer algo mais permanece ao longo da vida dos pais. Não que isso vá redundar necessariamente num sentimento de culpa incontornável. Não é isso. Quero apenas ressaltar que a felicidade dos pais está intimamente relacionada à felicidade dos filhos. E creio que o inverso também seja verdadeiro.

Quanto à segunda pergunta: o que deixarei para os meus filhos? Bens materiais? Alguns certamente. Todavia, por incrível que possa parecer, essa é a questão mais bem resolvida na minha cabeça: deixarei a eles boas lembranças. Lembranças das vezes que fomos juntos à praia ou que ouvimos músicas, dos carinhosos olhares, das trocas de afeto, das vezes que tentamos identificar estrelas e constelações lá no interior do estado, das caretas e poses que fizemos para as fotografias de família, das pequenas confidências, das piadas que trocamos pela internet, das revistinhas que lemos juntos, das vezes que os busquei nas festinhas, das brincadeiras por causa do crescimento dos pêlos e de outras partes mais, da atenção dada quando eles ficaram doentes. Enfim, por conta desses e de outros detalhes preciosos.

As boas lembranças serão a condição da minha própria imortalidade. Não entendeu? É que por causa das boas lembranças gravadas na mente e no coração dos meus filhos eles terão o maior orgulho de falar de mim para os meus netos, que por sua vez falarão para os seus filhos e assim por diante. Guardarão com carinho meus livros, meus discos, minhas lembranças e meus ensinamentos.

Sabem com quem aprendi isso? Com o Menino Maluquinho. Foi com ele que descobri que se um cara é legal quando adulto, é porque ele foi um menino feliz. E meninos felizes têm boas lembranças.

Manhã de 17/08/2003

DIVAGAÇÕES


O corpo pede descanso
Mas a mente devaneia
Os músculos querem arrego
A cabeça incendeia
Novas possibilidades às vezes provocam situações inusitadas: corpo e mente afastam-se simultaneamente por alguns momentos e não é nada fácil aproximá-los. Enquanto a mente vagueia por caminhos e lugares onde nunca estivemos, o corpo parece preso a uma âncora. Tornar esses momentos de certa angústia em algo criativo é a melhor forma de quebrar a corrente da ansiedade.

Guilherme Carvalho
Madrugada de 24/10/2002

Olhar que trai


No centro do ser
Existe luz
Que transpira
No ver
Que imagina
Qualquer gesto
Querendo saber

No centro do ser
Existe luz
Que inspira
Que seduz
Que observa
Que vigia
Querendo compreender

No centro
A gente chora
Quando os olhos
Tentam tão longe querer
Saber todas as almas
Saber toda dor
Querer por força
Desvendar todos os segredos
Da visão do amor.

Em parceria com Antonio Oliveira
Belém (PA), 17/09/2000

terça-feira, 1 de maio de 2012

Quem é essa "opinião pública"?

É muito comum grandes empresas de comunicação apresentarem-se através de matérias jornalísticas e/ou das análises de seus/suas comentaristas como representantes da "opinião pública". A "opinião pública pensa isso", a "opinião pública não tolera mais", a "opinião pública exige providências" bradam eles e elas a todo momento. Mas quem diabos é essa opinião pública?

Com o avanço das novas tecnologias as corporações empresariais da comunicação têm perdido paulatinamente o monopólio da informação. Hoje, não adianta mais o Jornal Nacional, a VEJA, o Estadão, O Globo e a Folha de São Paulo, por exemplo, omitirem informações que lhes são indesejadas por conta de acordos ou negócios que mantêm com determinados grupos políticos e econômicos. Observe o caso Carlinhos Cachoeira/Demóstenes Torres. Está ficando cada vez mais evidente a vinculação do Grupo Abril, responsável pela revista Veja, com o esquema criminoso. Não obstante, os veículos citados acima batem na tecla de que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) investigará a relação do bicheiro com políticos e partidos. Escondem que jornalistas e grupos de comunicação também são alvos das investigações. E não se assustem: caso o Roberto Civita e Policarpo Junior, presidente do Grupo Abril e chefe da sucursal da VEJA em Brasília, respectivamente, sejam convocados pela CPMI seremos inundados de matérias sensacionalistas denunciando atentados contra a liberdade de imprensa e à democracia. Entretanto, liberdade de imprensa e libertinagem das empresas de comunicação não são a mesma coisa.


Ao que tudo indica o que houve nesse episódio envolvendo a VEJA e o bicheiro foi uma associação criminosa para atingir fins ilícitos. Foram usados diversos expediente ilegais como escutas clandestinas, invasão de privacidade, extorsão, desvio de recursos públicos, acusações mentirosas etc., para garantir a expansão das atividades do grupo de Cachoeira. Matérias "plantadas" na imprensa tinham como objetivo afastar concorrentes e/ou abrir "novas oportunidades" de negócios ao bando. Em troca, a revista tinha acesso a informações obtidas ilegalmente para detonar o governo federal e aliados em favor da oposição. Há, inclusive, a confirmação de pagamento de "mensalinho" a jornalistas como Claudio Humberto (ex-porta voz do Collor) e Mino Pedrosa (da revista Isto É) para "ferrar" com os adversários do bicheiro e de seu grupo. Muitos outros parecem ter sido "agraciados" com os "mimos" de Cachoeira.

Os grupos empresarias de comunicação - com exceção neste momento da TV Record e do site do Terra - não informam que durante o mandato de governador de São Paulo, José Serra repassou cerca de R$ 34 milhões à VEJA por conta da compra de exemplares da revista e de outras publicações do Grupo Abril para escolas. Todavia, segundo diversos educadores, esses materiais não eram adequados para o trabalho pedagógico com as crianças.


Enquanto o Globo e todas as outras buscam relacionar a Delta, uma das grandes beneficiárias do esquema criminoso de Carlinhos Cachoeira, com o governo Sérgio Cabral (RJ), "esquecem-se" que o governo de São Paulo durante as gestões de Alckimin e Serra repassaram mais de R$ 900 milhões àquela empresa e há possibilidades reais de que tenham ocorrido desvios de recursos em muitas obras, em especial na ampliação da marginal do rio Tietê, cujo custo por quilômetro é superior ao da construção do Eurotunel, sob o Canal da Mancha, que liga a França à Inglaterra; obra muito mais complexa que a realizada em São Paulo.

Os grupos empresariais de comunicação decidiram que isso não é importante e que à "opinião pública" somente interessa averiguar questões secundárias desse intrincado esquema de corrupção que atinge diversos estados, vários partidos políticos da situação e da oposição, membros do poder judiciário - inclusive há suspeitas sobre determinado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Contudo, para nós, a "opinião pública", interessa saber quem roubou, quanto roubou, como esses valores serão ressarcidos aos cofres públicos e de que forma funciona o esquema criminoso que envolve jornalistas e empresas de comunicação na tentativa de gerar sucessivas crises institucionais. Queremos tudo apurado, julgado e os criminosos na cadeia; sejam eles quem forem. E não adianta sonegar informações porque isso é simplesmente impossível no mundo atual.

Nosso país jamais será uma democracia se continuarmos tutelados pelas corporações empresariais da comunicação. Sigamos o exemplo da Inglaterra que está apurando as ações criminosas do dono de um império jornalístico mundial, o "empresário" australiano Keith Ruperth Murdoch. Lá foi a própria imprensa quem denunciou as ações criminosas do grupo. Cortou na própria carne. Aqui, Pilatos é o santo da Globo, VEJA, Estadão, Folha e outros.
Enquanto isso, o advogado de Carlinhos Cachoeira apresentou uma tese cínica de que os criminosos de colarinho branco não deveriam ir para a cadeia porque elas são "desumanas". O que vocês acham disso?