quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Os rescaldos do plebiscito

No próximo domingo nós paraenses decidiremos se o Pará continuará uno ou se teremos a criação de mais dois novos Estados, nesse caso o Tapajós e o Carajás. Vai ser uma decisão difícil por diversos motivos. Em primeiro lugar porque é inegável que a população interiorana vem sendo relegada a um plano secundário por sucessivos governos. A prestação dos serviços de saúde, abastecimento de água, coleta de esgoto e de lixo (não é possível sequer falar em tratamento), transporte, educação e moradia, entre outros, é muito deficiente. As pessoas se sentem abandonadas e entregues à própria sorte nos travessões da Transamazônica ou da Cuiabá-Santarém. Em segundo lugar porque nem a população da Região Metropolitana de Belém (RMB) ou do que vier a ser o Pará (caso haja a divisão) goza de serviços públicos de qualidade. Segundo estudos do governo federal, a RMB é uma das piores regiões metropolitanas do país em termos de qualidade de vida. Ou seja, aqui também a pobreza e o abandono são grandes, mesmo reconhecendo que a situação é um pouco melhor do que nas demais regiões.

O que é irritante nesse processo de debate sobre a divisão ou não do Estado é cara de pau de muitos políticos, estes sim alguns dos principais responsáveis pela situação a que chegamos, virem à televisão para dizer que as coisas vão melhorar se dividir, e outros dizendo que as coisas já estão mudando.

Entre os defensores da divisão encontram-se parlamentares como Lira Maia (DEM) e Giovanni Queiroz (PDT) que sempre "mamaram nas tetas" oficiais. Estiveram a maior parte do tempo às sombras do poder, beneficiando-se de diversas formas dos governos que apoiaram. Agora vêm a público denunciar uma situação da qual eles mesmos foram cúmplices e responsáveis. Do outro lado, temos Zenaldo Coutinho (PSDB) e Manoel Pioneiro (PSDB) há anos usufruindo das benesses do poder e utilizando a pobreza para garantir suas sucessivas reeleições, ambos nas periferias da RMB. São todos calhordas travestidos de cordeiros. Se tem uma coisa com a qual não estão preocupados é com a situação das populações das diferentes regiões do Pará. Zenaldo quer ser prefeito de Belém. Lira Maia quer ser governador do possível Estado do Tapajós. Giovanni sonha em ser senador, pois sabe que dificilmente seria indicado à disputa pelo comando do Estado do Carajás. Já Pioneiro deseja continuar sendo o insignificante de sempre, mas bem aquinhoado.

Não esqueçamos Simão Jatene que ocupa postos de destaque no Pará desde o final da década de 1970. Ele, portanto, não pode deixar de assumir suas responsabilidades pelo Pará ter um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano do país, mesmo que estejamos entre aqueles que mais contribuem para o PIB brasileiro. Somos um estado rico com uma população pobre. Nossas riquezas servem para enriquecer alguns grupos econômicos do Brasil e do exterior enquanto que à população sobram os impactos negativos da exploração intensiva e inconsequente de nossos recursos naturais.

E o Jader? E o Priante? E o Oti Santos? E o Paulo Rocha? E o Wandekolk Gonçalves? E a Tetê? E o João Salame? E o Antonio Rocha? E a Josefina Carmo? E o Raimundo Santos? E o Megale? E o Pio X? E o Haroldo Martins? E o Tião Miranda? E o Alexandre Von? E a Simone Morgado? E o Parsival? E o Manoel Pioneiro? O que dizer de todos eles e de outros mais? Todos, absolutamente todos, são os grandes responsáveis pela indecente situação de pobreza do povo paraense. Agora, durante a campanha do plebiscito, se transformaram em defensores de "ideais nobres": denunciam a Lei Kandir que repassa as nossas riquezas a preços de "pai para filho", mostram-se horrorizados com o fato de os pobres buscarem ajuda médica em Teresina (PI), Goiás ou Tocantins, indignam-se com a falta de infraestrura. Calhordas!

As demandas das populações do Oeste e do Sul/Sudeste do Pará são legítimas. Não podemos fechar os olhos para isso. A divisão é a melhor alternativa? Há ainda muitas dúvidas quanto a essa questão e a campanha na televisão e no rádio em nada ajudaram a reflexão madura e consequente sobre o assunto. Foi um desperdício de dinheiro!

O que me preocupa é o pós-eleição. Independentemente do resultado do plebiscito o Pará não será mais o mesmo. Creio que o governo Jatene entrará numa espiral de crise. Isto porque a vitória do NÃO vai provocar inúmeros ressentimentos e a recomposição de sua base político-partidária não será fácil. Passará a ser um governo ainda mais questionado nas regiões.

Por falar em ressentimento, isto já pode ser percebido mesmo antes do dia do plebiscito. Viajando por Santarém ouvi diversas frases e piadas semelhantes às que nós paraenses comumente ouvimos quando vamos ao Amazonas, como "aquele povo de Belém" e outras mais. No aeroporto daquela cidade vi dois jovens trocando mensagens pela internet, cujos conteúdos eram racistas, identificando os/as "paraenses" como vagabundos(as) e/ou ladrões. Foi terrível assistir aquilo. A campanha na TV e na rádio (de ambos os lados) atiça ainda mais esse sentimento de disputa.

Se o SIM ganhar o definhamento da base do governo é quase certo. Os ressentimentos também serão evidenciados de diferentes formas entre a população. As disputas pelos cargos que serão criados com a constituição dos novos Estados vai levar os "paraenses" a disputá-los em melhores condições, alimentando ainda mais os conflitos entre os "naturais" e os "invasores". Este é apenas um pequeno exemplo de como os ressentimentos poderão expressar-se.

O plebiscito é uma forma democrática de decisão sobre assuntos relevantes. Pena que este tenha sido manipulado pelo SIM e pelo NÃO para encobrir interesses nefastos à população. O Povo do Pará merecia bem mais do que isto. Seja como for, os grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros deverão ser, mais uma vez, os grandes vencedores do processo... Infelizmente.

Um comentário:

  1. Quase uma tragédia uma postagem dessas não ter tido nenhum comentário... Passados 3 meses do plebiscito, mta coisa do post virou realidade...

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