domingo, 29 de abril de 2012

Toda glória e poder ao deus mercado globalizado!

Há situações em que parecemos dominados por forças sobrenaturais. Entidades etéreas cujo poder sobre nossas vidas se mostram avassaladoras. No Brasil, de Collor em diante um desses zumbis se chamou "as forças do mercado". Tudo passou a ser sacrificado no altar da nação em glória e honra desse ente tão falado, mas nunca visto, cheirado e/ou tocado. Não obstante, com poder suficiente para varrer do mapa as economias de diferentes países, e jogar na miséria milhões e milhões de pessoas.
Segundo os ideólogos da doutrina neoliberal, a "mão invisível do mercado" tudo podia pois sob seu controle estava o poder de mudar o destino da humanidade. De acordo com eles, para melhor. Glória! Glória! Aleluia" Aleluia! Gritavam exultantes seus humildes servos. Até decretaram o fim da história. A partir da globalização capitalista não haveria outra coisa senão o "nada". Restava, então, nos conformarmos e pedir à suprema onipotência e onisciência da economia desregulada que nos protegesse de todo o mal, e que tivesse complacência com os nossos pecados mundanos.
A partir do final dos anos 1970 dois grandes sacerdotes surgiram a revelar a "boa nova" neoliberal: Ronald Reagan e Margareth Thatcher, então presidente dos EUA e primeira-ministra do Reino Unido, respectivamente. Bancos Centrais, Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (BIRD), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Organização Mundial do Comércio (OMC) e outras instituições logo se converteram em templos sagrados da nova (des)ordem mundial. Muitas universidades colaboraram para a confirmação dos dogmas neoliberais - veja o filme Inside Job; parlamentos, grande parte dos partidos políticos, do judiciário e da mídia corporativa se tornaram fiéis pregadores da globalização capitalista.

Analistas econômicos assumiram a nobre missão de convencer os incautos de que o "reino" finalmente havia sido alcançado. O progresso tão almejado finalmente mostrava-se em toda a sua plenitude. Somente os hereges não enxergavam isto. Não obstante, o "deus mercado" exigia sacrifícios. E esses sacrifícios aumentavam exponencialmente quanto mais os servos se aproximavam da base da pirâmide social, mas isso um mero "detalhe".

"Nosso "deus" necessita de sacrifícios para aplacar sua ira e nos conceder o direito de viver", gritavam exaltados os clérigos e os crentes da nova (des)ordem. Privatizemos nossas empresas e bancos públicos, pois são ineficientes; abramos nossa economia à concorrência internacional e a desregulemos, afrouxemos a fiscalização sobre a atuação do setor privado, permitamos que as humildes corporações transnacionais possam remeter seus lucros ao exterior sem quaisquer constrangimentos. A Tábua das Leis foi alterada. Os mandamentos foram reduzidos a alguns considerados essenciais:

1. Amarás o "deus mercado" acima de qualquer coisa e lhe serás fiel até o fim dos dias dos bilhões de miseráveis que sucumbirão por não serem úteis ao sistema;

2. Amarás o dólar, o euro, o yen e outras moedas valorizadas como a ti mesmo;

3. Não julgarás os pastores e as instituições que pregam a nova (des)ordem mundial, mesmo que tenham roubado, fraudado, enganado ou desviado recursos públicos, pois ninguém possui estatura moral para atirar a primeira pedra;

4. Os servos excluídos da ciranda financeira global devem resignar-se com o destino a eles imposto, pois esse é o desejo do "deus mercado" e nada e ninguém pode contradizê-lo;

5. Os hereges serão condenados em vida pela mídia e pelos órgãos de repressão do Estado. Aos hereges restará carregar sobre os seus ombros os pecados do mundo e pagar por eles no inferno.


Todavia, o "reino" que era para durar mil anos resistiu um pouco mais de duas décadas. A economia cresceu - quando cresceu - de forma inexpressiva, os conflitos sociais se exacerbaram, assim como o número de miseráveis nos quatro cantos do mundo. Os Estados nacionais que se converteram nos grandes arautos da religião neoliberal quebraram, faliram. Contraditoriamente, porém, os dogmas da nova (des)ordem continuam firmes a embalar os sonhos de muitos governantes, dos analistas econômicos e da mídia em geral, de membros do parlamento e do judiciário, entre outros. As corporações transnacionais estão mais poderosas do que nunca, especialmente as do setor financeiro. As crises que abalam Grécia, Portugal, Espanha, Itália, França, Grã-Bretanha, Japão e EUA converteram-se em fonte adicional do aumento de poder das avaliadoras de risco - como a Godman Sachs -, dos bancos (agiotas institucionalizados) e de uma gama minúscula de endinheirados, incluindo o narcotráfico e o tráfico de armas e de mulheres. Em conjunto, é a nova forma do crime organizado sob a face da terra da qual a associação Carlinhos Cachoeira, Demóstenes Torres, Veja, Globo, Folha de São Paulo e Estadão é apenas uma ponta do titânico iceberg ainda sob o manto da impunidade.


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Aos amigos que partem cedo.

As pessoas boas deveriam ser obrigadas a ficar conosco mais tempo, a fim de nos ajudar a sermos melhores. A pressa com que elas passam por este plano nos deixa a dúvida se isso é um sinal positivo de que caminhamos para algo mais saudável ou, pelo contrário, significa que as coisas tendem a ficar piores.

Não tenho certeza, mas parece que no livro dos Macabeus, Antigo Testamento, há uma questão sobre a morte de jovens. É que eram considerados virtuosas as pessoas que morriam bem velhinhas. Seriam as agraciadas de Deus. Ocorre, porém, que muitos jovens morriam nas guerras e isso acabou provocando uma celeuma: estes não eram amados por Deus?

Não seria legal se num mundo tão conturbado como o nosso as pessoas de bom coração ficassem aqui por mais tempo para nos ajudar a melhorá-lo? Alguns podem dizer: mas Deus estava precisando delas. E nós, não estamos precisando muito mais? Não, não estou afirmando que Deus é injusto. Contudo, o mundo fica mais injusto sem essas pessoas.

Estou escrevendo isso por causa da morte do amigo Valmir Bispo. Estudamos juntos no curso de História da UFPA lá pelos idos da década de 1980. Militamos juntos no PT por muitos anos, sempre em agrupamentos políticos diferentes. Ao pensar nele constatei que nunca, em tempo algum, presenciei algum gesto da sua parte que eu poderia classificar como autoritário ou desrespeitoso. Pelo contrário, sempre foi um doce de pessoa, um sujeito tolerante.

Valmir sempre defendia seus pontos de vista firmemente, mas jamais com agressão. Em vários momentos estivemos em campos opostos dentro do PT. Todavia, as lembranças que guardo dele são as melhores possíveis.
No último dia 29 de março nos encontramos pela última vez. Foi quando integrei uma mesa de debates durante o Encontro Pan-Amazônico de História Oral. Lá estava ele sentado na última fileira da sala. Terminada a atividade nos encontramos lá fora. Nos abraçamos. Ele perguntou se eu tinha o email dele e eu respondi que sim. Disse ele: "vamos nos encontrar qualquer dia desses pra batermos um papo". Concordei e nos demos mais um abraço. Foi a última vez que nos vimos.

A marca dele era ter um grande sorriso na face. Aliás, parecia estar sempre sorrindo, feliz com a vida: seja dançando no Arraial do Pavulagem, seja trabalhando pelo fortalecimento das manifestações culturais no nosso estado.

Anos atrás foi o Manoel Amaral que partiu. Este era mais duro na defesa dos seus pontos de vista. Não aliviava durante o debate, mas tinha um coração tão grande quanto ele. A convivência no PT se transformou numa grande amizade. De vez em quando visitava a casa dele. Ficava me perturbando pra que eu participasse dos jogos de futebol de salão que ele e outros promoviam toda semana. E mesmo quando ele se filiou ao PSOL jamais deixamos de nos falar, ou de debatermos sobre a política local e os rumos da esquerda.
Também nunca integramos o mesmo grupo político, mas isso jamais foi obstáculo entre nós. Trocávamos ideias, divergíamos e, ao final, tudo se resolvia com boas gargalhadas. O maior defeito dele era ser um fanático torcedor do Payssandu. Mesmo isso se transformou em mais um motivo de fortalecimento dos nossos laços de amizade.

Ao lembrar do Valmir e do Manoel me dou conta de que é plenamente possível a convivência com quem pensa diferente da gente. Também ficou mais evidente que a militância não retira a ternura das pessoas, não as torna insensíveis. Se havia uma coisa em comum entre os dois era a paixão pela vida, o carinho com a família e com os amigos.

Tudo isso também serve para o Carlinhos Galiza que morreu semana passada por causa de um acidente doméstico. Ele que ajudou a formar toda uma geração de militantes através do trabalho pastoral da Paróquia de São Sebastião, na Sacramenta, em plena ditadura militar. Com o apoio resoluto dos padres João Beuckenboon e Tiago Widen, diga-se.

Por que os bons partem cedo? Querem nos colocar à prova? Quais seriam os motivos? O mundo empobrece com a partida deles. A vida de quem conviveu com eles fica mais triste e não há como disfarçar completamente um certo sentimento de revolta que nos corrói por dentro.

Concluo com um singelo poema que escrevi tempos atrás:


PERDAS E GANHOS

O medo da perda
É algo que nos consome
Dilacera nossa alma
Paralisa nossas forças
Abismo é seu nome

O medo da perda
Torna a vida mais dura
Ossifica o pensamento
Envelhece a juventude
Aprisiona a aventura

O medo da perda
Confunde os nossos sentimentos
Nos faz dominar o outro
Limita os nossos passos
Rouba nossos melhores momentos

Porém, a perda é prima-irmã da vida
Faz parte do nosso ser
É a dor que nos ensina
É o fato que nos lembra
Que pra germinar é preciso morrer

terça-feira, 17 de abril de 2012

Deus é Matemático


Olá, galera!

Nessa minha postagem de retorno, tenho certeza que muita gente não vai concordar comigo, mas pretendo apenas expor uma concepção de mundo que eu tenho há muito tempo. Então podem vir as críticas, sem problemas.

Dia de segunda-feira a noite aqui em casa geralmente assistimos ao CQC da Band, um programa que já foi melhor antigamente, mas que ainda rende algumas boas risadas. No entanto, o jantar em família de algumas horas atrás nos fez esquecer do programa que vemos rotineiramente, isso porque começamos a falar sobre alguns assuntos que podem ser facilmente discutidos em ocasiões como essa: Religião, viagem no tempo, Positivismo, Filosofia, Big Bang, Matemática, Teoria do Caos, Probabilidade, surgimento da vida, alienígenas, futuro da humanidade, entre outros.

Enfim, foi um jantar pra lá de proveitoso, que durou horas e nos fez esquecer da programação rotineira. Porém eu vim aqui falar da opinião que eu externei para os meus familiares, na tentativa de fazer com alguém concorde comigo, já que eles o fizeram no máximo de forma parcial. Minha teoria (quando digo minha, não quero dizer que eu a criei ou que ninguém tenha falado sobre isso antes de mim, e sim que eu sempre pensei dessa forma) é que o que concebemos hoje como Deus, criador de tudo e de todos, é o maior matemático de todos os tempos.


Ou talvez um engenheiro, que seja, o importante é que ele gosta muito de matemática. Talvez você esteja pensando: "Lá vem esse positivista dizer que a ciência explica tudo!", mas calma, deixa eu tentar explicar, antes de você discordar.

Muita coisa que diz respeito à natureza, seus fenômenos como as chuvas, terremotos, disposição de átomos, leis da física, etc., podem ser explicadas através de recursos matemáticos. Existem coisas realmente surpreendentes na natureza pra simplesmente terem sido obras meramente do acaso. Um bom exemplo disso é a relação entre o animal aquático nautilus, a disposição dos galhos de uma planta e sequência de Fibonacci. Pra quem não lembra, Fibonacci foi um grande matemático italiano nascido no século XII, o qual ficou conhecido, entre outras coisas, por ter elaborado uma sequência de números que começava com o número 1 e os próximos números eram a soma dos dois números anteriores: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89... 

O formato do Náutilus se dá conforme a sequência de Fibonacci.

Achilla  ptarmica
A quantidade de galhos de uma planta cresce conforme a sequência, também.

Há muitos outros exemplos, inclusive com o chamado "Número de Ouro" da natureza, que podem ser vistos nesse site:  http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm2002/icm203/numeros.htm (Vale muito a pena dar uma conferida, não custa nada!). Com a matemática podemos fazer previsão do tempo, calcular intensidade de terremotos, e até estipular os efeitos danosos que o desflorestamento acarretará para a temperatura do nosso planeta. Além disso, a matemática está bastante presente nas leis da física e da química, ajudando-nos a compreender o mundo em que vivemos cada vez mais fielmente.

Geometria Molecular

Então vamos à nossa questão: na minha concepção, a ciência coexiste com a espiritualidade. Nossas descobertas científicas, na verdade, são descobertas dos feitos divinos no universo, todas as leis físicas, químicas e biológicas derivam da vontade divina. Por que ele fez isso? Não sei dizer, mas simplesmente não é possível esse universo ser tão perfeito ao acaso. Há um grande engenheiro matemático por trás de tudo isso.

Aí vem a pergunta: mas se dá pra explicar tudo através da matemática, poderemos prever o futuro de tudo e de todas as coisas? Aí, meu caro, depende da sua concepção de futuro, mas na minha não. Tudo que acontece na nossa vida é derivado das probabilidades matemáticas. As coisas, na minha concepção, acontecem devido a inúmeras variáveis, como lugar, tempo, pessoas, meio ambiente, concepções culturais, individuais ou coletivas, entre muitas outras. Cada combinação dessas quase infinitas variáveis gera um possível futuro, para cada pessoa, lugar, nação, objeto, animal, ou seja, tudo. Com a tecnologia que nós temos hoje, é impossível analisar tantas variáveis tão complexas, o que não quer dizer que daqui a alguns séculos não tenhamos essa possibilidade, visto que a poucos séculos atrás sequer podíamos nos comunicar de uma cidade para a outra sem levar várias horas e até dias. Mas se um dia formos capazes de processar tantas informações forem necessárias, poderemos sim relatar todas as possíveis consequências que determinadas ações poderão gerar, porém, ainda assim, não poderemos dizer qual delas irá acontecer. Podemos dizer o que é mais provável acontecer, mas nunca o que de fato irá acontecer. Aí entra o acaso. Aí entra Deus, nas nossas vidas.

É válido lembrar que eu to falando da natureza, não das relações humanas. Essas últimas são ainda muito mais complexas, e seu entendimento beira a impossibilidade. O foco aqui é mostrar como a matemática, junto com as outras ciências naturais, poderão explicar tudo, ou praticamente tudo, de como as coisas  da natureza acontecem. Além do que, aqui, não to tentando justificar o porquê de Deus nos criar, ou interferir nas nossas vidas, e sim que ao criar tudo, fez com um toque matemático.

Não sei se consegui passar bem o que eu queria, confesso (são 04:35 da manhã), mas se alguém captou o que eu quis dizer, e tiver mais exemplos do toque matemático de Deus, ficarei super grato. Quem não concorda, beleza. O importante é se sentir feliz e praticar o bem, seja lá em que você acredita. 0/

sábado, 14 de abril de 2012

Carta a alguém

Esta é para te dizer que sinto a tua falta, e que a minha mente antes efervescente, agora produz lampejos de pensamentos centrados em ti. A tua parte na cama continua desarrumada, e o teu prato ocupa o lugar de sempre na mesa.

É engraçado, ou melhor, é patético me pegar dizendo “tenha um bom dia” para a porta quando saio pela manhã. Todavia, é mais triste chegar à noite e ver todas as luzes apagadas.

A pressa te fez esquecer algumas peças de roupa que, diga-se, mantenho-as impecavelmente limpas e guardadas. Sentirias orgulho do meu zelo.

A ausência daquelas brigas bobas deixou um estranho vazio, que nem a música no último volume é capaz de preencher. Nossos vizinhos andam reclamando... É bem verdade que evito determinadas canções. Acho que o meu instinto de auto-preservação fala mais alto nesses momentos.

De repente me peguei íntimo do Johnny Walker. Logo eu que sempre fui conhecido entre os nossos amigos como “beija-copo”, justamente por fingir que bebia para não me sentir isolado. O Johnny tem sido um amigão, mas desconfio que o mesmo tenha outras intenções inconfessáveis. Bem, deixa pra lá. O importante é que consigo dormir à noite, apesar dos efeitos colaterais no dia seguinte. Nessas horas lembro do Vinicius para quem o uísque era o melhor amigo do homem, um “cachorro engarrafado”, dizia ele. Comecei a achar que o poeta tinha razão.

O teu cheiro continua intenso no banheiro. A mescla de aromas dos teus diferentes shampoos, cremes, sabonetes e perfumes parecem ter ficado incrustados nas paredes. Não sei mais o que fazer para banir a tua presença de lá. Sinceramente, acho que é uma luta inglória.

Não posso esquecer do carro. Quantas loucuras foram realizadas naquele minúsculo espaço. Tantos beijos, abraços. Tantos braços e tantas mãos. Muito calor, suor... Parecíamos dois alunos de yoga dadas as mais absurdas posições que conseguíamos exercitar. Infelizmente vendi o carro, pois a grana anda curta. Ao menos a concentração no trânsito melhorou bastante depois disso.

Conheci um restaurante maravilhoso dia desses. É que deixei de freqüentar aquele que íamos regularmente. Já não agüentava mais as mesmas perguntas e os mesmos olhares de quem nos via por lá.

Espero que estejas bem. Soube que conseguiste ficar ainda mais bonita. Isso é bom. Não é todo mundo que consegue essa proeza. Da minha parte, sigo caminhando, pois a vida continua, apesar de tudo.

Abraços,

Eu.

Guilherme Carvalho

PS: podes devolver aquelas fotos?

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O mercado de carbono: ou a natureza como uma mercadoria qualquer.

Com a constituição do capitalismo se consolidou uma perspectiva que marcou a história da humanidade a partir de então: a concepção de que o homem é um ser apartado da natureza. Essa mudança de cosmovisão mudou radicalmente a relação entre ambos. Daí em diante caberia ao homem dominar, subjugar a natureza para o atendimento pleno de seus interesses. A ciência integra o processo como uma das grandes viabilizadoras desse domínio.

Alçada a condição de uma mercadoria como qualquer outra a natureza passou a ser uma commoditie importante para a reprodução ampliada do capital. O fato novo é que agora até o ar pode ser comercializado: é o mercado de carbono. Caso essa nova modalidade de exploração capitalista seja efetivamente implantada as consequências tendem a ser nefastas para todos(as) nós.

Tal mercado, se constituído, permitirá às grandes corporações econômicas e aos Estados nacionais mais poderosos (Estados Unidos, China, França, Alemanha, Japão e outros) negociarem o direito de poluir a atmosfera, pagando aos demais países por esse direito através da compra de títulos na bolsa de valores: é a carbonificação da economia ou a financeirização da natureza. Como tudo no capitalismo, a ideia é proporcionar imensos lucros a essas corporações e seus Estados com a crise ambiental. É isso mesmo: a crise ambiental se transformou numa mercadoria valiosa, mesmo que isto venha agravar os riscos à nossa própria existência enquanto espécie.

Até mesmo desmatar passa a ser um ótimo negócio, pois a floresta nativa pode ser substituída por espécies exóticas como pinus, eucalipto, acácia, palma e outras, dizer que a área foi reflorestada e que está sendo realizado importante serviço à humanidade com a captura de carbono por essas espécies. A EMBRAPA e outras instituições de pesquisa estão aí mesmo para demonstrar "cientificamente" que o carbono está sendo retirado da atmosfera, permitindo, então, às corporações econômicas emitirem títulos nas bolsas de valores e auferir fabulosos lucros com isso.

Os defensores dessa estratégia também denominada economia verde tentam a todo custo convencer a sociedade de que o mercado é a melhor alternativa à crise ambiental. Buscam consolidar a ideia de que não há necessidade de qualquer mudança estrutural do próprio sistema, que basta a adoção de instrumentos “mais eficientes” de mercado para que o problema seja solucionado. Aí surgem siglas e mais siglas que muitos(as) de nós sequer conhece o significado: REDD, REDD+, REDD PLUS e tantos outros. Por trás desse emaranhado de letras escondem-se interesses poderosos. Em comum, a tentativa de garantir a livre expansão do capital e o controle de territórios e seus recursos.

Na (Pan)Amazônia muitas empresas (nacionais e estrangeiras) buscam freneticamente estabelecer acordos comerciais com povos indígenas através de contratos. Quando lemos tais contratos vemos com clareza que o objetivo é garantir aos conglomerados econômicos o controle dessas áreas, da sua biodiversidade, enquanto que às comunidades se pretende repassar recursos que nem de perto se aproximam dos lucros que serão obtidos pelas empresas, bem como as responsabilidades legais e financeiras de manter a área preservada.

Às medidas abordadas acima para garantir o acesso, uso e controle de territórios soma-se a execução de grandes projetos de infraestrutura na (Pan)Amazônia. Hidrelétricas, portos, aeroportos, hidrovias, rodovias, gasodutos, sistemas de comunicação, redes de energia e postos de fronteira estão sendo implantados para garantir justamente a expansão acelerada do capital na nossa região, cujos impactos socioterritoriais têm sido nefastos às populações tradicionais e outros segmentos, em particular às mulheres e jovens.

Denúncias de operários(as) submetidos(as) a condições análogas à escravidão, violência sexual, prostituição de adolescentes, disseminação do consumo de drogas, particularmente do crack, assassinatos e outras formas de violência são comumente registrados nas áreas onde estão sendo executados os empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA). É o que ocorre, por exemplo, nas regiões impactadas pelas hidrelétricas Santo Antonio e Jirau no rio Madeira, em Rondônia, e em Belo Monte, no Pará.

Enquanto isso a industria barrageira como Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Suez Energia, Furnas, Eletronorte e outras também estão se mobilizando intensamente para que as hidrelétricas possam ser consideradas "capturadoras de carbono", a fim de também poderem vender títulos nas bolsas de valores.

Em junho haverá a Cúpula dos Povos no Rio de Janeiro paralelamente à Rio+20. Momento em que movimentos sociais e ongs do mundo inteiro tomarão as ruas para mostrar sua oposição à financeirização da natureza, pois a vida não tem preço!

Acompanhe esse debate.