sexta-feira, 13 de abril de 2012

O mercado de carbono: ou a natureza como uma mercadoria qualquer.

Com a constituição do capitalismo se consolidou uma perspectiva que marcou a história da humanidade a partir de então: a concepção de que o homem é um ser apartado da natureza. Essa mudança de cosmovisão mudou radicalmente a relação entre ambos. Daí em diante caberia ao homem dominar, subjugar a natureza para o atendimento pleno de seus interesses. A ciência integra o processo como uma das grandes viabilizadoras desse domínio.

Alçada a condição de uma mercadoria como qualquer outra a natureza passou a ser uma commoditie importante para a reprodução ampliada do capital. O fato novo é que agora até o ar pode ser comercializado: é o mercado de carbono. Caso essa nova modalidade de exploração capitalista seja efetivamente implantada as consequências tendem a ser nefastas para todos(as) nós.

Tal mercado, se constituído, permitirá às grandes corporações econômicas e aos Estados nacionais mais poderosos (Estados Unidos, China, França, Alemanha, Japão e outros) negociarem o direito de poluir a atmosfera, pagando aos demais países por esse direito através da compra de títulos na bolsa de valores: é a carbonificação da economia ou a financeirização da natureza. Como tudo no capitalismo, a ideia é proporcionar imensos lucros a essas corporações e seus Estados com a crise ambiental. É isso mesmo: a crise ambiental se transformou numa mercadoria valiosa, mesmo que isto venha agravar os riscos à nossa própria existência enquanto espécie.

Até mesmo desmatar passa a ser um ótimo negócio, pois a floresta nativa pode ser substituída por espécies exóticas como pinus, eucalipto, acácia, palma e outras, dizer que a área foi reflorestada e que está sendo realizado importante serviço à humanidade com a captura de carbono por essas espécies. A EMBRAPA e outras instituições de pesquisa estão aí mesmo para demonstrar "cientificamente" que o carbono está sendo retirado da atmosfera, permitindo, então, às corporações econômicas emitirem títulos nas bolsas de valores e auferir fabulosos lucros com isso.

Os defensores dessa estratégia também denominada economia verde tentam a todo custo convencer a sociedade de que o mercado é a melhor alternativa à crise ambiental. Buscam consolidar a ideia de que não há necessidade de qualquer mudança estrutural do próprio sistema, que basta a adoção de instrumentos “mais eficientes” de mercado para que o problema seja solucionado. Aí surgem siglas e mais siglas que muitos(as) de nós sequer conhece o significado: REDD, REDD+, REDD PLUS e tantos outros. Por trás desse emaranhado de letras escondem-se interesses poderosos. Em comum, a tentativa de garantir a livre expansão do capital e o controle de territórios e seus recursos.

Na (Pan)Amazônia muitas empresas (nacionais e estrangeiras) buscam freneticamente estabelecer acordos comerciais com povos indígenas através de contratos. Quando lemos tais contratos vemos com clareza que o objetivo é garantir aos conglomerados econômicos o controle dessas áreas, da sua biodiversidade, enquanto que às comunidades se pretende repassar recursos que nem de perto se aproximam dos lucros que serão obtidos pelas empresas, bem como as responsabilidades legais e financeiras de manter a área preservada.

Às medidas abordadas acima para garantir o acesso, uso e controle de territórios soma-se a execução de grandes projetos de infraestrutura na (Pan)Amazônia. Hidrelétricas, portos, aeroportos, hidrovias, rodovias, gasodutos, sistemas de comunicação, redes de energia e postos de fronteira estão sendo implantados para garantir justamente a expansão acelerada do capital na nossa região, cujos impactos socioterritoriais têm sido nefastos às populações tradicionais e outros segmentos, em particular às mulheres e jovens.

Denúncias de operários(as) submetidos(as) a condições análogas à escravidão, violência sexual, prostituição de adolescentes, disseminação do consumo de drogas, particularmente do crack, assassinatos e outras formas de violência são comumente registrados nas áreas onde estão sendo executados os empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA). É o que ocorre, por exemplo, nas regiões impactadas pelas hidrelétricas Santo Antonio e Jirau no rio Madeira, em Rondônia, e em Belo Monte, no Pará.

Enquanto isso a industria barrageira como Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Suez Energia, Furnas, Eletronorte e outras também estão se mobilizando intensamente para que as hidrelétricas possam ser consideradas "capturadoras de carbono", a fim de também poderem vender títulos nas bolsas de valores.

Em junho haverá a Cúpula dos Povos no Rio de Janeiro paralelamente à Rio+20. Momento em que movimentos sociais e ongs do mundo inteiro tomarão as ruas para mostrar sua oposição à financeirização da natureza, pois a vida não tem preço!

Acompanhe esse debate.

Um comentário:

  1. Tu acredita que me trabalho de Teoria Geral da Administração vai falar justamente sobre o Crédito de Carbono e a Economia? Beleza, já tenho minhas fontes!

    Na expectativa de ver mais comentários sobre a Rio+20!

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