sábado, 24 de março de 2012

Violência e preconceito: armas mortais do conservadorismo.

Alguns fatos ocorridos neste mês chamaram a atenção de pessoas de todos os continentes. O primeiro foi o assassinato a sangue frio de 17 pessoas no Afeganistão, a maioria crianças, ato supostamente perpetrado por um soldado estadunidense em seu "dia de fúria". Antes já haviam sido divulgadas imagens de um grupo de fuzileiros urinando em cima de cadáveres de insurgentes talibãs, bem como de exemplares do Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, queimados e jogados em latas de lixo próximas a uma base militar.

Em Toulouse, na França, um jovem franco-argelino foi cercado por tropas de elite e após muitas horas de infrutíferas negociações acabou morto. Dias antes o jovem havia assassinado indefesas crianças judias que chegavam na escola, o pai de duas delas e de três soldados franceses de origem africana. O jovem em questão havia visitado o Paquistão e o Afeganistão e é possível que tenha mantido contato com grupos extremistas atuantes naquela região.

Nos EUA um jovem negro foi perseguido e morto por simplesmente ter ido ao codomínio onde vivia seu pai usando uma jaqueta com capuz. Um branco considerou-o suspeito e enfiou-lhe dois balaços. Alegou depois que se sentiu ameaçado e nem sequer foi autuado pela polícia. Na Flórida, de acordo com uma lei aprovada não faz muito tempo, qualquer pessoa pode legalmente matar outra se sentir-se "ameaçada". Uma onda de protestos tomou conta do país, o que fez o presidente Obama exigir "apuração rigorosa" do fato.

O que há em comum nos fatos narrados acima? A intolerância, a completa incapacidade de convivência com o diferente. O medo é uma poderosa arma de guerra, seja ela declarada ou não.

Há um livro do famoso linguista estadunidense, Noam Chomsky, intitulado Novas e velhas ordens mundiais, em que analisa como o medo é utilizado para garantir o controle da população daquele país e a satisfação dos interesses de um pequeno grupo da sociedade (políticos, a indústria bélica, lobbistas etc.):

Tem sido intrigante observar a procura desesperada por algum novo inimigo desde que os russos estavam visivelmente enfraquecendo-se nos anos 80: o terrorismo internacional, os narcotraficantes hispânicos, o fundamentalismo islâmico ou a "instabilidade" do Terceiro Mundo e a depravação generalizada. O projeto foi conduzido com sua sutileza usual; assim a categoria de "terrorismo internacional" é limpa de qualquer referência às contribuições dos Estados Unidos e de seus dependentes, que removem todos os registros históricos mas permanecem não sendo mencionados na mídia e no respeitável mundo acadêmico (CHOMSKY, 1996, p. 14)
Quando não há inimigos, cria-se. O importante é que haja sempre alguém ou uma causa contra qual se mobilize corações e mentes, a fim de garantir que os poderosos de plantão mantenham-se no poder indefinidamente. O interessante, se não fosse trágico, é que essa perspectiva reúne segmentos dos dois extremos: da direita e da esquerda. Irmanados, põem-se a espalhar o medo e o terror para justificar suas insanidades. Afinal de contas, Bin laden não foi financiado e treinado pela CIA? Hosni Mubarak, ditador egípcio, não foi peça fundamental dos Estados Unidos para manter seu controle sobre o Oriente Médio?

Talibãs, negros, imigrantes, ciganos, prostitutas, iraquianos, iranianos, argelinos ou norte-africanos são alguns dos segmentos contra quem se mobiliza ódios e repulsas. Na França, Sarkozy, em plena campanha para garantir sua reeleição, discursa contra a presença de imigrantes, mobilizando setores xenófobos, envergando suas bandeiras. Afegãos são encarados como sub-espécie humana pelas forças de ocupação da OTAN capitaneadas pelos EUA. Na terra do Tio Sam o racismo é um dos fatores da profunda divisão social existente no país, e mesmo o presidente Obama não é poupado pelos que se consideram pertencer a uma "raça pura".

A religião islâmica não prega a morte de quem não a professa. Os muçulmanos acreditam que Jesus é um profeta tanto quanto Maomé. Os extremistas são os que distorcem os ensinamentos maometanos para justificar suas ações criminosas, o assassinato de inocentes. Enquanto isso nós "ocidentais" somos bombardeados de informações oriundas de agências internacionais profundamente vinculadas ao establishment estadunidense - France Press, Associated Press, Reuters e outras - para que sejamos condescendentes com os crimes cometidos no Iraque, Paquistão, Iemen e Afeganistão, ou que apoiemos os "falcões" israelenses e estadunidenses contra o Irã.

A disseminação do medo é a arma dos conservadores, dos reacionários, dos que não aceitam a convivência entre diferentes e nem a democracia. E no Brasil, quem são os segmentos apontados como os "nossos inimigos"? Vários são apontados por pessoas como o deputado Bolsonaro e outros: os menores de idade que cometem crimes, os nordestinos (para uma fração da sociedade paulistana), os negros, os favelados, os índios (que são apresentados como obstáculos ao "progresso"), os homossexuais (para religiosos retrógrados) e muitos outros. São realmente inimigos, ou são utilizados para garantir a satisfação de interesses inconfessáveis (alguns nem tanto)? Pense nisso.

Um comentário:

  1. O medo como forma de dominação acompanha a história humana desde os seus primórdios. E nada mais justo do que se tornar um dos maiores instrumentos do capitalismo pra movimentar o mundo.
    Agora, acho que faltou o que talvez seja o exemplo mais claro disso tudo, que se trata da forma que o governo do Tio Sam usou o ataque às Torres Gêmeas pra praticamente fazer com o seu povo e com os outros o que bem entendesse.
    Enfim, espero que essa bagaça volte de vez agora... boa sorte pra vocês.

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