sábado, 5 de novembro de 2011

Belém e a imundice

Nasci e me criei em Belém. Por apenas dois anos e meio estive fora da cidade, período em que residi em Manaus. Tenho dificuldades para me ver ver vivendo em outro lugar. Nossa cidade é encantadora. Amigos que vêm por essas bandas se maravilham com a hospitalidade das pessoas, as comidas típicas, as vendedoras do Ver o Peso, a variedade de sabores dos sorvetes, o Teatro da Paz e por aí vai. Ouvir falar bem da nossa cidade é sempre muito bom ao nosso ego.


Entretanto, não podemos fechar os olhos a uma triste realidade: nossa Belém é imunda. O lixo está "democraticamente" espalhado na periferia e no centro da cidade. A outrora metrópole da Amazônia parece ter sucumbido ao lixo. É lixo nos ônibus, nos quintais, nas frentes das casas e dos prédios, nas calçadas, nas praias, nos rios que circundam a cidade e nos igarapés que a recortam. Desde as bitucas de cigarro até móveis, colchões etc. E não se pode dizer que isso ocorre por "mal hábito dos pobres", como alguns preconceituosos brandam sem cessar. É ou não comum vermos pitboys em seus carros importados lançando latas e mais latas de cervejas pelas ruas da cidade? Veja a Doca, por exemplo. Todos têm culpa independentemente da renda. Contudo, não se pode desconhecer que para quem mora na periferia, lugares em que muitas vezes o carro do lixo sequer entra, a situação é bem mais complicada. Então temos um misto de incompetência governamental e de pouca noção de cidadania, que juntas transformam nossa cidade nesse lixão a céu aberto.

Um "pequeno" detalhe. Os governos tucanos se vangloriam de terem realizado a Macrodrenagem da Bacia do Una. A maior obra de infraestrutura urbana da América latina, dizem eles. Enchem o peito emplumado para afirmar que gastaram cerca de R$ 700 milhões na obra. A maior parte emprestada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e com recursos do governo federal. Pois bem, eu lhes pergunto: Onde estão as estações de tratamento? Gastaram uma fortuna na dragagem, na instalação de fossas sépticas e na ampliação das redes de esgoto e de água e absolutamente nada na construção dessas estações? Os igarapés se tornaram grandes valões onde toda espécie de imundice se movimenta de um lado para outro. Peço desculpas aos lasanheiros e lasanheiras, mas para mim isto é uma junção de burrice, mal caratismo e - vamos dizer - mal uso do dinheiro público. Numa linguagem chula podemos afirmar o seguinte: a bosta captada de nossas casas está sendo jogada tal como antes do Projeto de Macrodrenagem nos rios onde captamos água para beber. E essa é a loucura da história, porque o tratamento fica ainda mais caro. Coitado do nosso dinheirinho...

Voltemos ao lixo - desculpem, não resisti. O nosso "honesto" e "competente" prefeito Duciomar Costa está movendo mundos e fundos para garantir a privatização do tratamento do lixo na Estação do Aurá. Primeiro, porque isso lhe garantirá muitos fundos
- principalmente nas futuras campanhas eleitorais, inclusive a do ano que vem. Segundo, com esses fundos ele vai viver no melhor dos mundos. Basta ver a singela evolução patrimonial do ilustre edil, de seus familiares e alguns amigos do peito (haja peito) nos últimos sete anos em que Dudu esteve a frente da prefeitura de Belém.

Os projetos sociais que havia no Aurá foram desmontados por Duciomar Costa. Justamente projetos de largo alcance que fizeram Belém receber vários prêmios da UNICEF e de outras instituições. Crianças foram retiradas do local por conta de serem atendidas pelo Bolsa Escola e houve o desenvolvimento de um trabalho interessante junto aos pais. Infelizmente tudo foi jogado no lixo.

A coleta do lixo já é algo ineficiente e foi privatizada há tempos. Agora, Dudu nos diz que com a privatização do Aurá tudo vai melhorar. Vai mesmo? Dudu é um privatista. Fez de tudo para tirar da COSANPA a atribuição de prestar os serviços de abastecimento de água e de coleta e de tratamento do esgoto. Para buscar a universalização dos serviços e assim melhorar as condições de vida de todos os habitantes de Belém? Não! Para repassá-los a grandes grupos privados. E se alguém acha que isso seria o melhor para a nossa cidade, pergunte a quem mora em Manaus se está plenamente satisfeito com a multinacional francesa que hoje é responsável por essa atividade na capital amazonense.

A coletiva seletiva de lixo em Belém é uma piada. Simplesmente não existe. O que vemos são ações pontuais. Até uma grande rede de supermercados da cidade iniciou a sua própria coleta seletiva. Enquanto isso, na Sala da Justiça, Dudu força o seu poderoso cérebro pra encontrar mais uma coisa para vender...

Brincadeiras a parte é preciso dizer que sinto vergonha de ver a situação a que chegamos. Eu que viajo bastante fico um tanto quanto abatido a cada volta. De constatar que a noção de cidadania ainda é algo distante na nossa comunidade e que o mal caratismo e a corrupção dão as cartas em altas esferas do poder local. Nos resta cantar?

Joga fora no lixo, joga fora no lixo...

2 comentários:

  1. Putz, que triste e grave constatação!
    Eu tbém que adoro minha cidade, Belém, me envergonho por essa realidade.
    PÔ, mas pq é que a gente não se revolta por isso?

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  2. Post em nível de qualidade do Lasanha. Muito bom mesmo. Vejo que deixei (temporariamente) o blog em excelentes mãos. 0/

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