terça-feira, 1 de novembro de 2011

Tempos sombrios... E de alguma esperança!

Sou um leitor ávido. Sempre fui. Ao mesmo tempo busco acompanhar os acontecimentos imediatamente próximos de mim, como também aqueles que ocorrem em paragens distantes. E devo confessar a vocês que ando vivenciando um misto de sensações, nem sempre boas.

Desde o ano passado o mundo árabe vem sendo sacudido por levantes populares contra as tiranias, as más condições de vida, por democracia e liberdade. Isto em si mesmo é um fato da mais alta relevância, porque se, de um lado, esses movimentos se levantaram contra todas as formas de opressão; de outro, não significaram a adesão automática ao extremismo que tentou ganhar maior espaço político nessas sociedades. Porém, não há como desconhecer também o papel nefasto que as grandes potências mundiais, em particular o Tio Sam e a União Europeia, vem desempenhando nessa região por conta de seus interesses geopolíticos e econômicos.


Essas ditaduras foram financiadas, armadas, treinadas e apoiadas politicamente por estadunidenses e europeus por décadas para fazer frente à "ameaça comunista" e ao "terrorismo", bem como para assegurar o livre acesso de suas poderosas corporações econômicas às riquezas naturais daqueles países, em particular ao petróleo. Nunca é demais lembrar a grande proximidade de Kadafi com os italianos - e suas empresas petrolíferas -, de Bin Laden e de Hosni Mubarak com os Estados Unidos, apenas para citar alguns exemplos.

A incerteza é a principal certeza que temos no momento. Ou seja, ninguém sabe ao certo se os levantes populares resultarão realmente em sociedades democráticas e em países soberanos, ou se estes apenas mudarão de feitores. Isto porque a repressão desencadeada contras as populações pelos "novos" regimes continua sendo a tônica para debelar os enormes conflitos existentes.

Por outro lado, na Europa, crescem vertiginosamente os grupos extremistas de direita. Recentemente a chanceler alemã afirmou que a tentativa de uma "sociedade multicultural" fracassou. O que realmente ela quis dizer com isso? É uma regressão às teses da "raça ariana"? Na Holanda, Áustria, França, Itália, Inglaterra, Espanha, Alemanha e outros países dominados por governos conservadores se expandem movimentos xenófobos concomitantemente ao endurecimento de políticas anti-imigrantes. Recentemente o governo inglês expulsou ciganos de uma área e ateou fogo no acampamento.

As rebeliões pelas ruas de diversas cidades na Inglaterra se iniciaram por conta da morte de mais um jovem negro pela polícia. Esses jovens são comumente parados nas ruas, molestados e humilhados por policiais. São pobres, filhos de imigrantes e vivem nas periferias. A repressão contra eles foi violenta. A polícia chegou a prender as mães de alguns dos "revoltosos" como se tivessem alguma culpa pelos atos dos filhos. Crianças também foram presas. A grande imprensa, o governo, os endinheirados e a maior parte dos políticos ficaram "horrorizados", defenderam prisões e condenações sumárias aos "terroristas" e a censura aos blogs, exigiram ter acesso ao conteúdos das mensagens trocadas pelos internautas nas redes sociais, tal qual foi executado pelos regimes autoritários árabes, num claro atentado às liberdades individuais.


Nos Estados Unidos ganha força o movimento Ocupa Wall Street que luta contra o poder avassalador do sistema financeiro, grande responsável pela mais grave crise econômica estadunidense desde a II Guerra Mundial. Naquele país a política foi capturada pelo capital financeiro. É ele quem dá as cartas: elege parlamentares e governos, determina a política econômica e se apossa da maior fatia da riqueza nacional. O número de pobres e desempegados é imenso e, na melhor das hipóteses, não piorará nos próximos anos. A educação nos EUA atende predominantemente os ricos. Quem é pobre jamais terá acesso às universidades de ponta, estas profundamente vinculadas às grandes empresas, assim como não tem acesso a um sistema de saúde estruturado para atendê-lo. Faltam professores de Matemática, Física, Biologia e outras disciplinas básicas em grande parte das escolas públicas dos EUA. Isto porque não há interesse dos jovens pelo magistério. Enquanto isso o fosso entre ricos e pobres aumenta a cada ano, como bem demonstram as pesquisas mais recentes. E qual a resposta governamental? Prisões e agressões aos manifestantes. Se você quiser ter uma visão do domínio do capital financeiro sobre a vida estadunidense assista o filme Inside Job.


No Chile, jovens estudantes se rebelam contra o governo exigindo maiores investimentos na educação pública. O ensino foi privatizado com a ascensão do ditador Pinochet ao poder e essa situação se manteve durante os "governos democráticos". Mais repressão, prisões e processos na Justiça contra os manifestantes. Um jovem estudante morreu vítima da bala assassina da polícia.

Na Bolívia, indígenas marcharam centenas de quilômetros até a capital La Paz para protestar contra a construção de uma rodovia que atravessaria o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS). Empreendimento financiado pelo Brasil através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), e cuja construção estaria a cargo de uma grande empreiteira brasileira. A repressão contra os indígenas foi violenta: tiros, prisões, crianças separadas de seus pais e uma pessoa assassinada pelas forças policiais. Repressão esta cometida por um governo que possui um indígena no seu comando, Evo Morales.


No Brasil, o governo federal ignora as denúncias da sociedade civil sobre as diversas ilegalidades cometidas pelo Estado brasileiro para garantir a construção de Belo Monte. Contudo, já é possível constatar os impactos negativos dessa obra: crescimento expressivo da violência contra mulheres e crianças, centenas de famílias sem teto por não terem onde morar devido o abusivo aumento do preço dos aluguéis, carestia, assaltos, assassinatos etc. Tudo em nome do "progresso" e do "desenvolvimento" (para quem?).

Apesar de tudo o que citamos acima há quem ainda se indigna e vai à luta. Esse é o aspecto positivo da coisa. O que nos faz acreditar firmemente que tudo ainda pode ser mudado.

Um comentário:

  1. Acho muuuuuito firme essa segunda imagem do post. E o post em si tá bem bacana também.

    O velho jargão diz que a esperança é a última que morre. O problema é que, de fato, um dia ela realmente morre. Mas dá pra sentir que ainda é preciso que as forças nefastas desse mundo se esforcem muito pra que a esperança de toda uma gente honesta e trabalhadora morra.

    0/

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