No dia 30 de agosto último escrevi um post propondo um debate com vocês a partir do seguinte mote: o que cada um e cada uma de nós faria se estivesse à frente de algum governo? Particularmente acho que há possibilidade de se fazer bem mais do que os sucessivos gestores e gestoras vêm realizando. Quando alguém assume um cargo no executivo normalmente começa dizendo que a administração anterior promoveu o caos, que as contas públicas não fecham, que foi incompetente etc. Não podemos negar que esses problemas realmente acontecem. Contudo, uma dúvida me assalta a mente: por que não fazem diferente se são capazes de identificar os erros anteriores? Não sei quanto a vocês, mas eu estou cansado do mais do mesmo.
Tudo bem, eu sei que há muitas experiências interessantes acontecendo nos quatro cantos do país, abarcando governos federal, estaduais e municipais: Orçamentos Participativos, Congresso da Cidadania, melhoria da gestão pública e por aí vai. Todavia, meu sentimento é que muitas pessoas se tornam pobres de espírito quando assumem cargos públicos.
Chega de lenga-lenga e vamos ao que interessa. Abaixo desenvolvo o primeiro exemplo concreto do que eu faria se estivesse à frente do governo do Estado do Pará. Hoje eu vou tratar de uma atividade econômica que a meu ver merece mais atenção por parte do poder público por conta do seu grande potencial de geração de empregos, renda e tributos.
Enquanto as sucessivas administrações preocuparam-se em dar todo tipo de vantagens às grandes empresas mineradoras, em especial à Vale, do agronegócio e eletrointensivas - como a ALBRAS aqui em Barcarena - que receberam e/ou ainda recebem muitos bilhões de reais em incentivos fiscais, abatimentos no imposto de renda, empréstimos subsidiados, isenções e outras benesses, atividades econômicas baseadas na exploração intensiva de recursos naturais, que geram poucos empregos e estão voltadas quase que exclusivamente ao atendimento das demandas dos mercados externos, outras ficam relegadas ao limbo. É o caso, por exemplo, da indústria da moda.
Essa indústria movimenta bilhões de dólares por ano, emprega milhares de pessoas de diferentes especializações e se constitui numa abrangente cadeia produtiva, capaz de gerar renda em escala ampliada e elevada receita aos cofres públicos. Fico pasmo quando vejo na TV propagandas de empresas do Nordeste e do Centro-Sul do Brasil que vêm a Belém realizar "Feiras de Moda" no Centur para venderem seus produtos. Isto sem falar nas pessoas que se deslocam da capital e/ou do interior do estado para ir à Goiânia, Fortaleza, Natal e São Paulo, entre outras, de onde trazem sacolas e mais sacolas de roupas.
A Amazônia é conhecida mundialmente. Imaginem vocês os ganhos que poderíamos alcançar no ramo da moda se soubéssemos utilizar com inteligência o fato de nos encontramos na Amazônia. Roupas, jóias, bolsas e outros assessórios, além de produtos de beleza, com a "cara" da nossa região - utilizando cipós, palhas, essências, pedras preciosas e semi-preciosas e outros mais. Tudo isto associado à realização de inúmeros eventos: feiras, simpósios, cursos, festivais, workshops, congressos etc., estimulando assim uma ampla gama do setor de serviços (hotéis, restaurantes, transportes, turismo, publicidade, designer...) e outros segmentos, como a produção de artesanato. Dar conta disso exigiria, entre outras questões, um intenso trabalho de qualificação profissional, envolvendo desde a abertura de novos cursos em universidades até o aperfeiçoamento de mão de obra já envolvida com a indústria da moda. Adicionemos a tudo isto a necessidade da construção de espaços adequados e a melhoria da infraestrutura (aeroportos, mobilidade urbana e saneamento). Ufa! A lista é grande...
O fato é que as ações dos governos paraenses em relação à indústria da moda, a meu ver, foram descontínuas, fragmentadas e pouco efetivas. Essa indústria nunca foi tratada com seriedade e a persistência necessárias para que se consolidasse em nosso estado. As iniciativas parecem mais lance para a mídia ou para atender as demandas de gente próxima aos "poderosos" de plantão do que um trabalho sério para impulsionar essa atividade econômica.
Enquanto isso temos o São José Liberto, local onde são vendidas jóias, artesanato, móveis e outros produtos, cujas atividades parecem encerrar-se em si mesmas naquele lugar (nem o site de vendas funciona realmente). Ao que tudo indica não há qualquer perspectiva de ampliação, apesar do enorme talento demonstrado por ourives, artesãos e outros que mostram as infinitas possibilidades que a Amazônia inspira.
Lasanheiros e Lasanheiras... É isso o que penso. E por incrível que pareça não dói. Portanto, mandem suas contribuições do que vocês fariam se assumissem a condução de um governo.
Eu sou um dos que tem preconceito com esse ramo da economia, mas até que consegui não ter tanto, ao ler esse texto.
ResponderExcluirEspero que continuem esses pensamentos, e até vou tentar pensar em alguns também, afinal, não dói, né?
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