Salve salve lasanheiros e lasanheiras.
É com imenso prazer que informo aos nossos (poucos) leitores que chegamos à nossa 80º (octogésima) postagem aqui no #LasanhaComFarinha. E nada mais justo que fazer uma postagem interessante e de bom conteúdo. É o que vou tentar, vamos lá.
Costumo pensar que uma roda de amigos num barzinho é um excelente termômetro da sociedade sobre temas polêmicos. Além daqueles tradicionais como política, religião e futebol, certas temáticas de época costumam gerar discursos efusivos, tempos em tempos. Essas discussões muitas vezes não tem uma base teórica lá muito apurada, no entanto reflete de forma bastante fiel o modo como a população ao todo enxerga a tal problemática.
Como ficaria o estado do Pará em termos geográficos. |
A bola da vez das mesas de bar daqui do meu glorioso estado do Pará é a possível divisão do estado, no fim do ano. Não pretendo, com essa postagem, dizer a vocês no que votar. Na verdade, eu não sou muito diferente dos que não possuem a tal base teórica, porém ainda assim espero contribuir, de alguma forma, nas conclusões próprias, de cada um de vocês, ao fim do ano.
Na época que eu fazia cursinho, em 2007, um certo professor de geografia dizia que "os argumentos de quem quer dividir o estado são ridículos. Mas os argumentos dos que não querem dividir são piores ainda". Antes, eu não entendia muito bem o que ele queria dizer com essa ideia, mas hoje eu compreendo melhor. A discussão pela divisão do estado, como em qualquer discussão, se baseia nos interesses pessoais de cada pessoa: o desmembramento faz todo sentido pra quem mora nos possíveis estados e causa repulsa em quem mora no possível futuro Pará recortado.
É um fenômeno realmente impressionante o que tem acontecido aqui por essas bandas: uniões nunca imaginadas e prol de uma ou outra decisão. Explico: "Nunca antes na história desse" estado os grupos "O Liberal" (ORM) e "Diário do Pará" (RBA) defenderam tanto a mesma ideia. E isso tem uma lógica muito grande, pois ambos os grupos de comunicação vão perder bastante influência política. O poder de barganha com determinados políticos e segmentos da sociedade civil vai diminuir consideravelmente. Em contra-partida, nessa discussão os partidos políticos praticamente se desfizeram, pois os deputados federais e estaduais, vereadores e prefeitos que são do interior do estado mostram um apoio frenético à divisão. Veja bem, existem políticos do interior em todos os partidos, ou seja, independente de visão política os que são dos possíveis novos estados apoiam a divisão, enquanto que os da capital, região metropolitana e nordeste do Pará não querem a divisão.
Não existe nessa discussão PT, PSDB, PMDB, DEM, PSOL, PV ou outro: tudo depende de que lugar é o político. Na gestão do PT, que terminou no ano passado, a então governadora Ana Júlia Carepa defendia o estado unido, enquanto que seu vice (Odair Corrêa, se não me falha a memória) que é de Santarém era um dos maiores entusiastas da criação dos novos estados.
Slogan da propaganda a favor da manutenção da união do estado |
A população em geral parece compartilhar da visão de seus políticos. Na região que irá continuar sendo Pará, mesmo que ocorra a divisão, é raríssimo ver alguém contra a divisão do estado. Predomina aqui o mesmo argumento vago de que vai ser gasto bilhões de reais na construção da infra-estrutura necessária aos novos estados. Por que é vago esse argumento? Porque é justamente o que a classe política local e mais os que vão perder poder de influência, como os grupos citados anteriormente, querem que a gente pense. Vejam bem, eu não estou aqui defendendo a divisão do estado, apenas quero mostrar que é preciso argumentos mais consistentes do que esse, pois todo ano os governos em geral desperdiçam bilhões em outras coisas, e até mesmo com desvio. Pra mim esse não é um argumento suficiente, e é o único que a população em geral usa. Ah não, tem outro também: "esses caras só querem dividir o estado pra roubar mais dinheiro pra lá!". Outro argumento que a imprensa vai martelar na nossa cabeça quando o horário político começar.
Slogan da propaganda a favor da divisão do estado. |
Por outro lado, a população do interior do estado é quase unânime quanto a criação dos novos estados. O argumento deles é que vai trazer progresso o fato de terem autonomia de decidir o que querem pra eles. Puro engano. Isso é o que os políticos de lá querem que a população acredite. Se isso vai acontecer, é outra história. Fato é que muitos dos nossos amigos interioranos não se consideram paraenses. Isso ficou bastante visível pra mim quando fui à cidade de Santarém, oportunidade a qual pude perceber que eles possuem muito mais ligação com Manaus do que com Belém. Podemos ver várias faixas pró-Carajás nos jogos do Águia de Marabá, pela série C do campeonato brasileiro.
Visto isso, outro argumento usado por quem quer a união do estado é que a divisão do estado ia quebrar toda a identidade cultural da população paraense. Mas que idiotice! Os caras nem se consideram paraenses, imagina ter cultura paraense. O mais hilário é ver as propagandas do Diário do Pará na televisão, com a temática "Orgulho de ser paraense" e 95% das imagens mostradas são de Belém. Quer dizer que ter orgulho de ser paraense é ser de Belém?
To com medo de parecer que eu quero que o Pará seja dividido, mas são apenas pensamentos sobre a ignorância e até a hipocrisia que muitos dos que defendem a união do estado possuem. É mais que claro, meus amigos, que tudo isso gira em torno de interesses políticos e pessoais. Tem gente que é contra só por ser do contra, e não pode ser assim. É uma decisão importantíssima que deve ser tomada com muito conhecimento do assunto. Devemos analisar, por exemplo, a migração que esses novos estados vão sofrer, caso sejam criados. Marabá e Santarém tem capacidade pra absorver essa gente toda que vai pra lá? Essas cidades possuem infra-estrutura necessária pra todas as transformações que vão ocorrer? Belém não ficaria melhor com 500 mil pessoas a menos, circulando na cidade? Pense: menos engarrafamentos, menos filas nos hospitais e até quem sabe menos violência?
Temos que pensar no todo, o que é melhor para os quase 7 milhões de pessoas que habitam esse estado. O que é mais vantajoso pra todos nós. Não podemos nos prender a certas opiniões tendenciosas. Os jornais de nível nacional também se encaixam nesse perfil. Espero realmente que ao começar a propaganda gratuita no rádio e televisão, os argumentos de todos, seja contra ou a favor, tenham uma melhor base teórica, para que dia 11 de dezembro façamos a melhor escolha.
Beijo do gordo! Uou!
É só uma questão pra refletir. A divisão do Estado não se trata apenas de uma questão regional, mas sim de um interesse nacional. Dividir não é tão simples assim e quem tem a obrigação de mostrar o que é melhor para todos, são aqueles que propõem a divisão, ou nunca ouviram falar de quem tem a obrigação de provar o que fala é aquele que acusa (no caso, de quem indaga-propoe-etc).
ResponderExcluirImaginem também a chama que a decisão daqui vai trazer para os separatistas dos outros Estados..
Acho que essa história é uma questão pessoal de interesses, realmente. Não sei a parte de Santarém, mas em Marabá o que é bem nítido é que quem realmente encabeça essa ideia, que por sinal é muito antiga, são pessoas que nem mesmo são de lá, pessoas do sul e do centro-oeste que chegaram lá e foram se dando bem (como acontece na maioria da vezes por lá). Alguns, poucos, Filhos de Marabá sabem que essa divisão não vai mudar muita coisa pra quem é da terra mesmo e sim continuar com os de fora se dando bem as custas dos trabalhos dos marabaenses. Em Parauapebas esse esquema se repete. Só espero que, se essa divisão não acontecer, os daqui prestem mais atenção nos de lá. E se acontecer, eles dêem conta de organizar tudo.
ResponderExcluirDe fato, não se trata de uma decisão simples em que tomamos partido, ou entramos numa determinada torcida,simplesmente por influência de opiniões apaixonadas que defendem interesses particulares.
ResponderExcluirinfelizmente, o que está em jogo não é o desenvolvimento social da população como propagam ambos os lados e, sim, os interesses políticos, econômicos e pessoais dos grupos que se aglutinam em torno da separação ou não do Estado. Se formos lembrar apenas na separação de municípios como o nosso vizinho Marituba, Curuá no Baixo Amazonas e tantos outros, a que conclusão podemos chegar em relação aos benefícios especulados desde a época das separações? Melhoria na educação, no atendimento à saúde, na geração de trabalho e renda, Não! Aumento da violência urbana, da corrupção, do desvio de verbas públicas e até de remédios e merenda escolar, Sim! Não tenho parâmetros em relação à criação dos novos estados, mas em relação aos novos municípios, não se observa a melhoria das condições de vida da população. É por isso que devemos continuar o debate. Quem pensa que é uma discussão alheia à nossa vida, se engana, pois é uma decisão que envolve vários aspectos de nossa realidade. E a realidade de quem vive ainda mais longe do atendimento aos serviços públicos, do acesso aos ensinos médio e superior, entre outros exemplos, é muitas vezes pior do quem vive próximo à capital. Portanto, independente da divisão ou não do Pará, esse debate todo precisa colocar em evidência a necessidade do atendimento integral e integrado de todos os cidadãos e cidadãs desse Estado. É a isso que os executivos e legislativos devem atentar. É para isso que os elegemos. Para garantirem a execução de políticas públicas que atendam às necessidades de toda a população. E não para conquistarem mais espaços públicos onde possam tratar e defender seus interesses particulares.