Recentemente ocorreram novas eleições na Grécia e o partido conservador Nova Democracia foi vitorioso. Este deverá formar o governo em aliança com o Partido Socialista (Pasok). Ambos defendem a agenda neoliberal imposta pela Alemanha e FMI à Europa: corte nos gastos sociais, revisão das leis trabalhista e previdenciária, austeridade etc.. Sem dúvida alguma os dois partidos estão entre os principais responsáveis pela situação caótica em que vive a Grécia e a extrema dificuldade porque passa sua população. Enquanto os bancos recebem fabulosas quantias de euros (aos bilhões) para se "salvar", a grande maioria dos gregos vive dias difíceis por conta do desemprego, do aumento da violência, do definhamento da democracia.
Alguém poderá objetar a afirmação acima dizendo que a democracia, apesar das turbulências sociais e econômicas, está preservada na Grécia já que a Nova Democracia chega ao poder amparada na "vontade das urnas". Contudo, como nos ensina o dito popular, o"buraco é mais embaixo". A Alemanha e outros países europeus, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o conglomerado da mídia internacional e instituições financeiras do "velho continente" interviram de forma aberta nas eleições gregas, ao baterem na tecla de que a vitória do partido de esquerda Syriza levaria a Grécia a abandonar o euro enquanto moeda única, bem como resultaria no aprofundamento da crise que já é bastante grave. Eis o que nos diz um artigo publicado recentemente no site OperaMundi sobre essa questão:
A crise da dívida iniciou entre 2004 e 2009, quando a Nova Democracia estava no poder e não só multiplicou por dois a dívida grega, como também maquiou as contas do país: apresentou um déficit de 6% do PIB quando, na verdade, este alcançava 16%. A Europa celebrou segunda-feira a vitória da Nova Democracia como uma salvação do euro. Nada pode ser mais falso: nenhum partido, nem sequer a coalizão de esquerda radical Syriza, optou por sair da moeda única. Berlim e os meios de comunicação fizeram um grandioso trabalho de manipulação: “não acreditamos neles, por isso votamos por Nova Democracia tapando o nariz”, dizia ontem um jovem eleitor da ND. O mais assombroso reside no fato de que a Europa pôs suas fichas na casa de um partido implicado até os ossos na debacle e em um homem cuja trajetória está cheia de variações incongruentes.
O que está sendo vivenciado pela Grécia é o padrão que passou a vigorar, em especial, a partir da década de 1980 no mundo. A hegemonia neoliberal se materializou porque os países mais poderosos do planeta conseguiram fazer com que suas agendas política e econômica fossem assumidas pela maioria das nações sem grandes questionamentos. Esse processo contou com o envolvimento estratégico do FMI, Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio (OMC), grandes grupos de comunicação, agências de classificação e outras instituições importantes. Bastava que um candidato ou partido sugerisse algo que se contrapusesse a um algum ponto de interesse da banca internacional, das transnacionais ou do G-7 para que fosse "implodido" por "comentaristas" políticos e econômicos, partidos e segmentos sociais conservadores e grupos empresariais. A perseguição se mostrava implacável, pois consideravam inadmissível o questionamento aos preceitos neoliberais: Estado mínimo, abertura comercial, privatização das empresas públicas, liberdade para a entrada e saída de capitais, cortes nos gastos governamentais, focalização das políticas públicas, desregulamentação do setor financeiro, revisão de direitos sociais etc.
Partido Nova Democracia |
Quando um candidato ou partido não era considerado "confiável" pelo "mercado" as ameaças se apresentavam de diferentes formas: saída do capital estrangeiro, avaliação negativa elaborada pelas agências de classificação, especulação, aumento do dólar... Ou seja, só havia uma alternativa: ou o concorrente se enquadrava ou estava fora do jogo. Programas de governo se consolidaram como meras peças de ficção, pois os compromissos com a manutenção das políticas macroeconômicas é que realmente valiam, independentemente do que o/a candidato(a) dissesse à população. As próprias eleições mais pareciam rituais formalmente organizados, pois os "programas governamentais" já se encontravam definidos bem antes pela banca internacional e seus pares. Estes eram os "verdadeiros" eleitores.
Alexis Tsipras um dos líderes da Coalizão da Esquerda Radical Syriza |
Hoje, há muitos questionamentos ao neoliberalismo. Todavia, isto não significa que seus pressupostos foram completamente abandonados. A situação no Brasil, no Peru, na Bolívia, na Espanha, em Portugal, na Grécia e em muitos outros países mostram o contrário.
A realização de eleições regulares, livres e transparentes são importantes para a consolidação da democracia em qualquer nação. Contudo, as últimas eleições na Grécia mostram que nem sempre é assim que a coisa funciona na medida em que os que realmente decidem os destinos dos gregos não possuem título, não entram nas filas e nem nas cabines de votação. A eleição foi de mentirinha?
O povo vai às ruas na Grécia |
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