É muito comum ouvirmos conselhos acerca da importância de encontrarmos nossos pontos de equilíbrio. Médicos, amigos e familiares sempre nos dizem isso quando passamos por momentos de aflição, doenças ou dificuldades. "Mente sã, corpo são", diz o enunciado bastante conhecido do público. Contudo, você já parou pra pensar no significado do que vem a ser realmente "equilíbrio"?
Ilya Prigogine |
Pois bem, um corpo em estado de equilíbrio é um corpo sem vida, pois a morte é, na verdade, o momento em que atingimos plenamente o estado de equilíbrio. A vida existe, em essência, por conta do desequilíbrio. Células morrem e outras nascem todos os dias até o momento em que o número daquelas que perecem é superior ao daquelas que surgem. Órgãos funcionam plenamente porque há desequilíbrio entre eles e não o contrário. Se pensarmos do ponto de vista da física, a entropia máxima - grosso modo, podemos dizer que entropia significa "estado de desordem" de um sistema termodinâmico - é justamente o ponto culminante do equilíbrio, onde a "desordem" já não existe. Por conseguinte, ela representa a impossibilidade do surgimento da novidade.
Segundo o filósofo Bernard Piettre, a "instabilidade e o desequilíbrio são, em compensação, a condição do surgimento de uma ordem” (PIETTRE, Bernard. Filosofia e ciência do tempo/Bernard Piettre; tradução: Maria Antonia Pires de Carvalho Figueiredo. – Bauru, SP: EDUSC, 1997, p. 150-151). Diferentemente do que imagina o senso comum o caos não produz tão somente desordem, mas também um novo tipo de ordem. Exemplo: o nosso universo. Eis o que nos diz o químico Ilya Prigogine:
Um título como As leis do caos pode parecer paradoxal. Existem leis do caos? O caos não é, por definição, “imprevisível”? Veremos que não é assim, mas a noção de caos nos obriga, em vez disso, a reconsiderar a de “lei da natureza”. Na perspectiva clássica, uma lei da natureza estava associada a uma descrição determinista e reversível no tempo, em que o futuro e o passado desempenhavam o mesmo papel. A introdução do caos obriga-nos a generalizar a noção de lei da natureza e nela introduzir os conceitos de probabilidade e de irreversibilidade. (...) mas o que gostaria de ressaltar nesse contexto é o papel fundamental do caos em todos os níveis de descrição da natureza, quer microscópico, quer macroscópico, quer cosmológico (PRIGOGINE, Ilya. As leis do caos. Tradução Roberto Leal Ferreira. – São Paulo: Editora UNESP, 2002.2002, p. 11).
Tendemos a imaginar que a nossa própria evolução enquanto espécie se deu de uma forma tão harmônica, que o que somos hoje parecia estar determinado desde priscas eras. Ledo engano: somos fruto da desordem, do desequilíbrio, de probabilidades que se concretizaram, do acaso. Entretanto, conhecemos muito bem o desenho que mostra a nossa evolução desde um certo tipo de primata até a constituição atual. Não parece algo bem natural?
Evolução da nossa espécie |
Resgatar a noção de probabilidade, acaso, desequilíbrio/equilíbrio é importante até mesmo para refletirmos sobre o nosso presente e as perspectivas futuras. Aliás, faz-se necessário incorporar também outra noção: a bifurcação. Na história, são justamente nos momentos de bifurcação que se colocam na mesa as múltiplas possibilidades. A história, afirmou o marxista francês Bensaïd, “já não segue doravante o traçado único que lhe daria sentido. Ele explode em galhos e ramos sempre recomeçados. Cada ponto de bifurcação crítico coloca suas próprias questões e exige suas próprias respostas” (BENSAÏD, Daniel. Marx, o Intempestivo: grandezas e misérias de uma aventura crítica. (séculos XIX e XX)/Daniel Bensaïd; tradução de Luiz Cavalcanti de Menezes Guerra. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1999, p. 60-61). Tal reflexão nos leva a questionar a ideia de que o capitalismo se constitui no estágio supremo da humanidade, ou que não há outra alternativa para o desenvolvimento da Amazônia a não ser entupi-la de hidrelétricas, expandir a monocultura da soja ou do eucalipto, ou ainda que o mercado de carbono (a mercantilização da natureza) seja o caminho para mantermos a floresta em pé. Não! A história é um livro em aberto e ela ainda está sendo escrita.
Então, amigas e amigos admiradores(as) do Lasanha: quando alguém chamar de você de desequilibrado(a), pode não ser de todo ruim. Ao menos mostra que você está vivo(a). Abraços.
Bom, nessa discussão já passamos horas na mesa da cozinha, então melhor não =D
ResponderExcluirVerdade, já tivemos essa discussão aqui, mas foi interessante ler de uma forma mais acadêmica. To vendo que vou ter que voltar a postar por aqui, pra que hajam mais postagens com temáticas interessantes como essa, em detrimento das muito políticas. Não que os posts sobre política sejam ruins, mas a essência do blog não é só essa. Ou pelo menos não era. 0/
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkk....Só farinha ou só lasanha?! Tem que ter a mistura! Concordo como Alexandre. Vcs são o máximo!
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