Em agosto último passei três semanas em Porto Velho (RO) realizando uma pesquisa. Como faço em toda viagem procurei a camisa de um time local para dar de presente ao meu filho. Pois bem, essa é a descrição da saga vivida por mim para adquirir a dita camisa.
Desde que cheguei a Porto Velho procurei obter informações sobre onde comprar a camisa de algum time local. Perguntei a motoristas de taxi, amigos e transeuntes. A resposta era sempre a mesma: é difícil.
Faltando dois dias para a minha partida resolvi percorrer o comércio local. Parava as pessoas nas ruas e indagava: sabe onde compro a camisa de um time aqui de Rondônia? Talvez lá na Sete de Setembro, disse um morador depois de várias tentativas. Fui apressado ao local. Tive duas surpresas na loja indicada. A primeira é que encontrei o objeto que tanto procurava. E cá pra nós a camisa era muito bonita. Era de um time do interior que infelizmente não lembro o nome neste momento. A segunda é que a mesma custava a "bagatela" de R$ 150,00. Meu espanto foi tão grande que deixei o vendedor um tanto quanto sem jeito:
- Sabe como é, tentou justificar o funcionário da loja, os times locais vendem camisas apenas durante o campeonato. Depois que o mesmo termina as camisas são produzidas somente no ano seguinte.
- Tudo bem, lhe disse, mas com esse preço eu compro uma camisa oficial do Barcelona, o melhor time do mundo.
Diante desse poderoso argumento, o vendedor contra-atacou:
- Certo, vamos fazer o seguinte, se o senhor pagar à vista nós lhe daremos um desconto e ela custará R$ 120,00.
Eu não sei se ria com a situação, se reclamava ou se pagava e ia embora. Resolvi ir embora.
Lá estava eu mais uma vez nas ruas de Porto Velho procurando uma camisa de time local para dar ao meu filho. Pergunta daqui, pergunta dali e lá pelas tantas alguém disse:
- Vá lá na sede do Ferroviário, eles têm camisas para vender.
Peguei informações sobre onde ficava tal sede e me dirigi para lá. Uma sede razoavelmente estruturada, diga-se. Contei mais uma vez toda a saga que estava vivendo. Contudo, nada de camisas. O desânimo começou a tomar conta de mim. Foi aí que um sócio do clube reacendeu minhas esperanças:
- Lá na Federação de Futebol eles vendem camisas, afirmou.
Com passos acelerados voltei às ruas da capital rondoniense.
Agosto é um dos meses do ano em que há "um sol" para cada pessoa em Rondônia. O calor era grande. Meus pés pareciam estar sendo cozidos dentro dos sapatos. O suor tomava conta de mim. A camisa grudada no corpo e aquele odor nada agradável exigiam um banho o mais rápido possível. A umidade estava baixíssima, ao redor de 20% em determinados dias. A fumaça das queimadas invadia a cidade, deixando tudo ainda mais complicado. Era difícil respirar, principalmente à noite.
Na sede da Federação conheci um dos assessores de comunicação da entidade. Falei-lhe da minha batalha épica para agradar o filho e pedi-lhe ajuda.
- Bem, aqui nós não temos camisas à venda, disse ele.
Ainda reclamou da falta de profissionalismo dos times locais e do pouco apoio das empresas ao futebol rondoniense. Pegou o celular e passou alguns números de presidentes de times para que eu perguntasse a eles sobre a venda de camisas. Foi o que fiz. Liguei uma, duas, três vezes. A resposta era a mesma: "não temos mais camisas, só ano que vem". Foi aí que o assessor lembrou de um time novo da capital que, segundo ele, mostrava o profissionalismo que faltava aos demais. O time: Santos de Porto Velho.
O Santos de Porto Velho é na verdade uma escolinha de futebol que mantém parceria com o famoso Santos de Pelé. Liguei para o clube e.....
- Sim, temos camisas para vender, disse a funcionária.
Peguei um moto-taxi e atravessei a cidade. Já era final de tarde. A escola está localizada às margens de uma importante avenida de Porto Velho. Até onde pude observar a estrutura parecia ser boa. Havia muitas crianças no local. E o time principal se constituiu em pouco tempo numa das forças futebolísticas de Rondônia, fazendo bonito no estadual. Quanto custa a camisa, perguntei. A resposta: R$ 60,00. O que há de se fazer? Os pais fazem de tudo para agradar os filhos....
Se alguém pensa que isso é coisa de Rondônia está completamente enganado. Ao final de 2010 a galera daqui de casa estava em São Luis. E também não foi nada fácil comprar a camisa de um time local. Já os uniformes do Flamengo, Corinthians e outros grandes clubes do Brasil e do exterior são vendidos em diversos pontos da cidade. Para achar uma camisa do Nacional de Manaus tive que peregrinar por muitas lojas daquela cidade. Adquiri o único exemplar disponível numa loja de materiais esportivos. Essa é a dura realidade da maioria dos clubes brasileiros. Sem apoio de empresas, dos governos e das próprias torcidas os clubes definham lentamente, restando torcer por clubes de outras regiões do país ou da Europa.
Pelo menos aqui no Pará é situação é um pouco melhor. Não é nada difícil adquirir uma camisa do São Raimundo, em Santarém. O mesmo não se pode falar da do São Francisco. Em Belém, por onde você olha há torcedores do Remo e do Paysandu desfilando orgulhosos com seus "mantos sagrados" pelas ruas da cidade. Porém, a falta de profissionalismo, o desleixo e a corrupção se fazem presente nos clubes. Se não fizermos nada para reverter a atual situação do futebol paraense poderemos enfrentar no futuro a mesma saga que hoje se vivencia em Porto Velho, Manaus e São Luis.
Mesmo sem divisão: LEÃO, nós te amamos!!!