Meu filho Lucas, membro do blog Veliko Valovi - http://velikovalovi.blogspot.com/ - escreveu recentemente um post intitulado "Crítica ao comunismo? Não sei". Ele expressa duas preocupações fundamentais: a) o comunismo levaria a uma estagnação tecnológica? b) como ficariam a cultura e a arte numa sociedade sem contradições de classe? São questões profundas e muito interessantes.
Joseph Alois Schumpeter foi um economista brilhante. Nascido em 1883 - mesmo ano da morte de Karl Marx e do nascimento de outro grande economista, John Maynard Keynes -, Schumpeter destacou que o surgimento de alguma inovação se constituía num fato importante para a realização de uma nova etapa de expansão da economia. Essa inovação poderia ser a entrada de um novo produto no mercado, a descoberta de uma nova fonte de matéria-prima, o surgimento de um novo método de produção e/ou de comercialização, entre outras.
Para Schumpeter a inovação não se restringia à tecnologia, em que pese reconhecer a importância da mesma ao processo de expansão econômica. Ao ressaltar a inovação, Schumpeter acabou valorizando sensivelmente a figura do empresário empreendedor para o desenvolvimento e fortalecimento do mercado capitalista, já que este busca auferir lucros crescentes que, segundo ele, resultarão em maiores investimentos na produção e para o surgimento de mais inovações que, por sua vez, desencaderão uma nova etapa de expansão.
A perspectiva schumpeteriana se constitui num modelo teórico de grande relevância para compreendermos o papel das inovações, da ciência e da tecnologia para a reprodução do sistema capitalista. Contudo, é preciso atentarmo-nos para o fato de que a competitividade entre as empresas não é o único fator que orienta as inovações. A luta entre as classes sociais não só persiste como é também um outro elemento que orienta as inovações, principalmente as técnicas/tecnológicas. Alias, Marx já havia alertado em O Capital sobre o declínio gradual das taxas de lucros por conta dos investimentos crescentes em capital constante, como a adoção de maquinários cada vez mais modernos em detrimento do capital variável; ou seja, da força de trabalho. Agora, eis o que diz o Lucas em seu post:
"(...) o capitalismo, desde a sua forma mais primitiva, é impulsionado por inovações tecnológicas, e disso não temos maior exemplo do que os tempos que eu e vocês, meus queridos, vivemos. E justamente por causa dessa guerra tecnológica praticada pelos neoliberais pra que esses consigam cada vez mais competitividade no mercado, várias empresas - em especial a transnacionais e de grande porte - investem massivamente em pesquisas. E por último, essas pesquisas são o que geram as inovações que chegam ao mercado e em nossas casas todos os dias. Em uma sociedade comunista, onde a competitividade não mais seria importante, o mundo ficaria estagnado tecnologicamente?"
Quando Marx e Engels elaboraram o Manifesto Comunista eles defenderam a ideia de que o socialismo seria uma etapa de transição entre o capitalismo e o comunismo. Portanto, no socialismo ainda haveria requicios da sociedade anterior, até mesmo desigualdades. Nessa "etapa" o princípio básico seria a cada um de acordo com sua capacidade. Já no comunismo, as contradições de classe teriam desaparecido; os instrumentos do Estado - como os poderes de polícia, de julgar ou de planejar o desenvolvimento, entre outros - seriam reabsorvidos pela sociedade e o princípio fundamental se transformaria para a cada um segundo sua necessidade. Por conseguinte, todas as pessoas teriam sua necessidades vitais atendidas - lazer, alimentação, moradia, transporte, acesso a bens culturais e outros. O trabalho já não seria um tormento, uma forma de alienação. O maior tempo livre poderia ser utilizado para o desenvolvimento integral do ser humano: artístico, filosófico, espiritual (o Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento, nos fala das primeiras comunidades cristãs que praticavam o comunismo), produtivo, participativo, relacional etc.
Para Schumpeter a inovação não se restringia à tecnologia, em que pese reconhecer a importância da mesma ao processo de expansão econômica. Ao ressaltar a inovação, Schumpeter acabou valorizando sensivelmente a figura do empresário empreendedor para o desenvolvimento e fortalecimento do mercado capitalista, já que este busca auferir lucros crescentes que, segundo ele, resultarão em maiores investimentos na produção e para o surgimento de mais inovações que, por sua vez, desencaderão uma nova etapa de expansão.
A perspectiva schumpeteriana se constitui num modelo teórico de grande relevância para compreendermos o papel das inovações, da ciência e da tecnologia para a reprodução do sistema capitalista. Contudo, é preciso atentarmo-nos para o fato de que a competitividade entre as empresas não é o único fator que orienta as inovações. A luta entre as classes sociais não só persiste como é também um outro elemento que orienta as inovações, principalmente as técnicas/tecnológicas. Alias, Marx já havia alertado em O Capital sobre o declínio gradual das taxas de lucros por conta dos investimentos crescentes em capital constante, como a adoção de maquinários cada vez mais modernos em detrimento do capital variável; ou seja, da força de trabalho. Agora, eis o que diz o Lucas em seu post:
"(...) o capitalismo, desde a sua forma mais primitiva, é impulsionado por inovações tecnológicas, e disso não temos maior exemplo do que os tempos que eu e vocês, meus queridos, vivemos. E justamente por causa dessa guerra tecnológica praticada pelos neoliberais pra que esses consigam cada vez mais competitividade no mercado, várias empresas - em especial a transnacionais e de grande porte - investem massivamente em pesquisas. E por último, essas pesquisas são o que geram as inovações que chegam ao mercado e em nossas casas todos os dias. Em uma sociedade comunista, onde a competitividade não mais seria importante, o mundo ficaria estagnado tecnologicamente?"
Quando Marx e Engels elaboraram o Manifesto Comunista eles defenderam a ideia de que o socialismo seria uma etapa de transição entre o capitalismo e o comunismo. Portanto, no socialismo ainda haveria requicios da sociedade anterior, até mesmo desigualdades. Nessa "etapa" o princípio básico seria a cada um de acordo com sua capacidade. Já no comunismo, as contradições de classe teriam desaparecido; os instrumentos do Estado - como os poderes de polícia, de julgar ou de planejar o desenvolvimento, entre outros - seriam reabsorvidos pela sociedade e o princípio fundamental se transformaria para a cada um segundo sua necessidade. Por conseguinte, todas as pessoas teriam sua necessidades vitais atendidas - lazer, alimentação, moradia, transporte, acesso a bens culturais e outros. O trabalho já não seria um tormento, uma forma de alienação. O maior tempo livre poderia ser utilizado para o desenvolvimento integral do ser humano: artístico, filosófico, espiritual (o Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento, nos fala das primeiras comunidades cristãs que praticavam o comunismo), produtivo, participativo, relacional etc.
A própria tecnologia não estaria premida pela competição desenfreada, posto que a sociedade não mais se regeria pela busca desenfreada pelo lucro e sim pela satisfação individual e coletiva. A arte continuaria sendo um modo importante e particular de compreensão da realidade, uma "filosofia de vida", como bem disse o Lucas. Se tivermos a convicção de que as necessidades humanas são infinitas, facilmente chegamos à conclusão de que motivos não faltarão para a expressão artístico-cultural.
Os países nórdicos estão entre os que possuem os melhores Indicadores de Desenvolvimento Humano (IDHs) do planeta. Então, porque alguns deles possuem taxas tão elevadas de suicídio de jovens? Certamente as causas são diversas, mas isso demonstra que as necessidades humanas não se restringem ao acesso à educação, moradia, bons serviços de saúde etc. O ser humano é complexo, vive em busca de respostas às suas indagações, angústias e necessidades. E não é o comunismo que cerceará essa condição humana. Então, a arte e a cultura sempre terão motivações para poder renovar-se continuamente. O problema, como já disse ao Lucas, é que pensamos a sociedade comunista com os valores que temos hoje, profundamente impregnados pelas perspectivas de uma sociedade competitiva, excludente e desigual.
O comunismo é uma utopia (ver o post Utopia e Fantasia). Um projeto que pode ou não se realizar. É uma revolução econômica, política e social. Contudo, arrisco-me a afirmar que é fundamentalmente uma revolução cultural, na nossa compreensão do mundo e nas nossas relações interpessoais. Nesse sentido, não podemos imaginar que a arte e a cultura se regerão pelos mesmos parâmetros da sociedade capitalista.
Os países nórdicos estão entre os que possuem os melhores Indicadores de Desenvolvimento Humano (IDHs) do planeta. Então, porque alguns deles possuem taxas tão elevadas de suicídio de jovens? Certamente as causas são diversas, mas isso demonstra que as necessidades humanas não se restringem ao acesso à educação, moradia, bons serviços de saúde etc. O ser humano é complexo, vive em busca de respostas às suas indagações, angústias e necessidades. E não é o comunismo que cerceará essa condição humana. Então, a arte e a cultura sempre terão motivações para poder renovar-se continuamente. O problema, como já disse ao Lucas, é que pensamos a sociedade comunista com os valores que temos hoje, profundamente impregnados pelas perspectivas de uma sociedade competitiva, excludente e desigual.
O comunismo é uma utopia (ver o post Utopia e Fantasia). Um projeto que pode ou não se realizar. É uma revolução econômica, política e social. Contudo, arrisco-me a afirmar que é fundamentalmente uma revolução cultural, na nossa compreensão do mundo e nas nossas relações interpessoais. Nesse sentido, não podemos imaginar que a arte e a cultura se regerão pelos mesmos parâmetros da sociedade capitalista.
Vi esse post como uma forma madura de expressar o que eu tentei. Até porque parece que as nossas compreensões a respeito do assunto são muito parecidas, a diferença está no conhecimento teórico que eu ainda não tenho.
ResponderExcluirDe qualquer forma, acho que os posts se repetem em muitos pontos, o que talvez seja bom por algum motivo que eu não consegui encontrar.
O que me deixa mais feliz é que eu consegui despertar o interesse de um cara vivído e doutorando em questões físicas e sociais a ponto de esse fazer um post como resposta. Então, meu amigo, já valeu demais =D
Bom post, saudações velikeiras.
Concordo!!
ResponderExcluir"sso demonstra que as necessidades humanas não se restringem ao acesso à educação, moradia, bons serviços de saúde etc. O ser humano é complexo, vive em busca de respostas às suas indagações, angústias e necessidades. E não é o comunismo que cerceará essa condição humana."
ResponderExcluirIncrível. Sem mais.