quarta-feira, 29 de junho de 2011

Festa Junina no Nordeste, o nosso Círio de Nazaré

Já queria falar sobre esse tema há algumas semanas, mas não tem lugar melhor para estar inspirado pra falar disso do que no Nordeste brasileiro: Festa Junina.

Na verdade, o fato de eu estar aqui em Recife, me fez mudar um pouco a ideia de postagem que eu tinha. Mas vamos lá: as Festas Juninas, como o nome sugere, são realizadas no mês de junho, em todo Brasil. O que eu não sabia (mas logo depois me achei um completo idiota por não ter pensado antes nisso) é que a festa junina como conhecemos é oriunda do bom e velho continente: a Europa. E consequêntemente não é comemorada apenas no nosso país.

Sim meus caros, na festa junina festajamos vários santos, como São João e Santo Antônio, e foi lá na Europa que o Catolicismo surgiu, cresceu e é do jeito que conhecemos hoje. Pra você ter uma idéia, a dança mais famosa do período, a quadrilha, tem o nome oriundo da França. Enfim, se vocês querem saber sobre a história da festa junina, como surgiu e chegou no Brasil, sugiro que visitem o pai dos burros: Dicionário? Que nada! É o Google, junto com a sua parceira inseparável, a Wikipédia.


Minha intensão com esse humilde post é mostrar o quão impressionado eu fiquei em ver como os Nordestinos concebem a festa junina. Pra começar que aqui é feriado. Galera toda se reúne, faz festa e mil tipos de comidas diferentes pra celebrar as datas. Me lembrou muito o nosso Círio de Nazaré. Tem apenas algumas pequenas diferenças, como o fato de ser mais de um santo celebrado e que a festa mor acontece não na capital, mas no interior do estado. Recife tava vazia quando cheguei, porque metade da população tinha ido pra Caruaru(PE) ou Campina Grande(PB). E quem ficou na cidade pôde assistir em quase qualquer canal local as festas. Na Globo Nordeste, por exemplo, tava passando todas as festas de todas as capitais nordestinas.

E aqui a galera se veste mesmo de caipira. Em Belém, que é onde eu moro, quem se veste assim são mais as crianças, ou então quem vai dançar quadrilha. Aqui é todo mundo mesmo, desde bebê a senhor de idade. Muito interessante todo mundo vestido de @_santoandre pelas ruas... Enfim, foi uma experiência e tanto passar o feriado de São João em Recife.

Teve muito mais comida que isso!

Mês de junho está entre os meus 5 meses do ano favoritos (Abril, pelo meu aniversário; Junho, pelas festas juninas; Julho, pelas melhores férias do ano; Outubro, pelo Círio de Nazaré; e Dezembro, pelo Natal). Tem tanta comida gostosa, tanta gente alegre nas ruas... Só que eu preciso confessar que nesse ano eu me achei meio velhoe ultrapassado: foi a primeira vez na minha vida que eu me encomodei com as bombas típicas da época, estourando na rua de casa. Antes era simplesmente sensacional eu, o papai e o Lucas fazendo aquelas latas de leite voarem quando a gente colocava bomba dentro delas. Bons tempos... E a cara de preucupação da mamãe era sem igual! =D

O que eu acho engraçado também é que desde que eu me entendo por gente, pelo menos em Belém, tocam as mesmas músicas de São João. "Eu sonhei que eu era, um balão dourado...", "Viva a magia viva do maracatu, é série b é série 1", entre outras. Entra ano e sai ano e essas músicas não saem da moda. Não deu pra notar se aqui é assim também, até porque eles ouvem outros ritmos como baião, forró "arrasta pé" e o xote. E só a nível de curiosidade (porque eu não sabia), as festas juninas de Cametá, no Pará, são umas das maiores festas, desse tipo, no Brasil.

Enfim galera, esse post veio meio tarde, porque Junho tá acabando, mas tá aí. Viva São João! E pra quem passou pelo dia de Santo Antônio e não conseguiu namorado(a), não se preocupe, ano que vem tem de novo! 0/

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Lá como cá!

Nos dias 14 e 15 deste mês tive a oportunidade de participar do Seminário Internacional Cachuela Esperanza na Bacia Internacional do Rio Madeira, realizado em Cochabamba (Bolívia). Cachuela Esperanza é uma localidade pertencente ao Departamento de Beni, encravada na Amazônia boliviana, que foi muito próspera durante o período da extração do caucho (borracha), mas que hoje encontra-se estagnada economicamente. Lá residem um pouco mais de 1.300 pessoas que vivem da pesca e do extrativismo. É um lugar lindo, com grande potencial para o turismo ecológico e de aventura. Contudo, não recebe os investimentos necessários para desenvolver essa atividade. A energia elétrica que abastece a localidade é proveniente de um motor a diesel: caro, poluente e que não atende adequadamente a demanda da comunidade. Essa é a situação de várias cidades bolivianas localizadas na parte oriental do país, na sua porção amazônica, como Cobija e outras.


O governo boliviano afirma que a única forma de atender as cidades e comunidades dessa parcela do país com energia elétrica é através da construção de uma hidrelétrica justamente em Cachuela Esperanza, aproveitando a grande velocidade do rio Beni. Os estudos, que ainda não foram concluídos, apontam que 690 quilômetros quadrados do território serão inundados, afetando, dessa forma, milhares de pessoas que vivem próximas ao rio Beni e afluentes.

Na realidade a hidrelétrica de Cachuela Esperanza é parte constitutiva do denominado Complexo Rio Madeira, que incorpora ainda as usinas Santo Antonio e Jirau, em Rondônia, que já estão sendo construídas, além de Guajará-Mirim, prevista para ser erguida na fronteira entre Brasil e Bolívia. Os objetivos perseguidos pelo governo brasileiro com a construção desse conjunto de hidrelétricas no Brasil e na Bolívia é: a) produzir energia para atender a demanda dos centros econômicos mais dinâmicos do Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro; b) proporcionar a instalação de grandes empresas na porção ocidental da Amazônia brasileira, fundamentalmente aquelas com grande inserção no mercado internacional, como as do agronegócio (pecuária, soja, celulose e outras), madeireiras e mínero-siderúrgica; c) transformar mais de 4.000 quilômetros de rios do Brasil, Peru e Bolívia em hidrovias, a fim de garantir o acesso, uso e controle dos recursos naturais estratégicos da nossa região por parte de grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros.

Essas hidrelétricas associadas a um conjunto de outras grandes obras previstas pela Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) e pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Pan-Amazônia - rodovias, portos, aeroportos, ferrovias, gasodutos etc. - permitirão às grandes empresas brasileiras ou as multinacionais aqui sediadas terem acesso aos mercados dos países vizinhos, seus recursos naturais e aos seus portos no Pacífico, como no caso do Peru.

A construção de Cachuela Esperanza custará (pelo menos é o previsto) cerca de US$ 2,5 bilhões. A Bolívia não tem esse recurso. Então, o mais provável é que ela recorra a empréstimos externos para erguer essa hidrelétrica. Como o governo brasileiro e grandes empresas do país têm muito interesse nessa obra, certamente o BNDES irá oferecer a quantia necessária a Bolívia, exigindo, evidentemente que as empreiteiras brasileiras participem do consórcio que construirá a usina, ou que a Bolívia contrate os serviços de consultoria ou compre máquinas e equipamentos no Brasil.

Cachuela Esperanza não é necessária para a Bolívia. Estudos demonstram que a demanda da porção amazônica daquele país por energia nos próximos quarenta anos será de 100 megawats. Atualmente o consumo das três maiores cidades do norte amazônico boliviano (Riberalta, Cobija e Guayaramerin é de 20 megawats). Porém, a hidrelétrica projetada para o rio Beni produzirá cerca de 1.100 megawats. Levar essa energia para outros pontos da Bolívia é economicamente inviável por conta dos altos custos das linhas de transmissão. Por que então construir uma hidrelétrica com essa capacidade de produção? Simplesmente para atender o mercado brasileiro. Ou seja, a Bolívia irá aumentar sua dívida externa para produzir energia barata ao Brasil - já que o nosso país será seu único mercado consumidor e, dessa forma, poderá impor o preço a pagar -, ficará com os graves problemas socioambientais (extensa faixa de floresta alagada, inchaço populacional nas periferias urbanas etc.), enquanto que ao Brasil restarão os benefícios de obter energia a preço baixo e de tornar a Bolívia ainda mais dependente política e economicamente.

O governo Evo Morales e seus aliados têm atacado duramente os que se opõem à construção de Cachuela Esperanza. Recentemente acusaram os/as integrantes do Fórum Boliviano de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FOBOMADE) de estarem a serviço da USAID (agência de cooperação estadunidense que apoiou as ditaduras militares na América Latina) e, portanto, contra "os interesses nacionais". Também têm realizado ampla campanha para angariar apoio da população ao projeto da hidrelétrica.

O povo boliviano não se beneficiará com a construção de Cachuela Esperanza. Boa parte das cidades e comunidades isoladas da Amazônia boliviana continuará sendo abastecida por termoelétricas a diesel mesmo que a usina seja erguida. Contudo, esse território rico em recursos naturais estará definitivamente aberto às empresas multinacionais, em particular às brasileiras. Eu pergunto a você: aceitaremos isso passivamente?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Dialogando com o meu filho sobre comunismo e outras coisas

Meu filho Lucas, membro do blog Veliko Valovi - http://velikovalovi.blogspot.com/ - escreveu recentemente um post intitulado "Crítica ao comunismo? Não sei". Ele expressa duas preocupações fundamentais: a) o comunismo levaria a uma estagnação tecnológica? b) como ficariam a cultura e a arte numa sociedade sem contradições de classe? São questões profundas e muito interessantes.
Joseph Alois Schumpeter foi um economista brilhante. Nascido em 1883 - mesmo ano da morte de Karl Marx e do nascimento de outro grande economista, John Maynard Keynes -, Schumpeter destacou que o surgimento de alguma inovação se constituía num fato importante para a realização de uma nova etapa de expansão da economia. Essa inovação poderia ser a entrada de um novo produto no mercado, a descoberta de uma nova fonte de matéria-prima, o surgimento de um novo método de produção e/ou de comercialização, entre outras.

Para Schumpeter a inovação não se restringia à tecnologia, em que pese reconhecer a importância da mesma ao processo de expansão econômica. Ao ressaltar a inovação, Schumpeter acabou valorizando sensivelmente a figura do empresário empreendedor para o desenvolvimento e fortalecimento do mercado capitalista, já que este busca auferir lucros crescentes que, segundo ele, resultarão em maiores investimentos na produção e para o surgimento de mais inovações que, por sua vez, desencaderão uma nova etapa de expansão.

A perspectiva schumpeteriana se constitui num modelo teórico de grande relevância para compreendermos o papel das inovações, da ciência e da tecnologia para a reprodução do sistema capitalista. Contudo, é preciso atentarmo-nos para o fato de que a competitividade entre as empresas não é o único fator que orienta as inovações. A luta entre as classes sociais não só persiste como é também um outro elemento que orienta as inovações, principalmente as técnicas/tecnológicas. Alias, Marx já havia alertado em O Capital sobre o declínio gradual das taxas de lucros por conta dos investimentos crescentes em capital constante, como a adoção de maquinários cada vez mais modernos em detrimento do capital variável; ou seja, da força de trabalho. Agora, eis o que diz o Lucas em seu post:

"(...) o capitalismo, desde a sua forma mais primitiva, é impulsionado por inovações tecnológicas, e disso não temos maior exemplo do que os tempos que eu e vocês, meus queridos, vivemos. E justamente por causa dessa guerra tecnológica praticada pelos neoliberais pra que esses consigam cada vez mais competitividade no mercado, várias empresas - em especial a transnacionais e de grande porte - investem massivamente em pesquisas. E por último, essas pesquisas são o que geram as inovações que chegam ao mercado e em nossas casas todos os dias. Em uma sociedade comunista, onde a competitividade não mais seria importante, o mundo ficaria estagnado tecnologicamente?"

Quando Marx e Engels elaboraram o Manifesto Comunista eles defenderam a ideia de que o socialismo seria uma etapa de transição entre o capitalismo e o comunismo. Portanto, no socialismo ainda haveria requicios da sociedade anterior, até mesmo desigualdades. Nessa "etapa" o princípio básico seria a cada um de acordo com sua capacidade. Já no comunismo, as contradições de classe teriam desaparecido; os instrumentos do Estado - como os poderes de polícia, de julgar ou de planejar o desenvolvimento, entre outros - seriam reabsorvidos pela sociedade e o princípio fundamental se transformaria para a cada um segundo sua necessidade. Por conseguinte, todas as pessoas teriam sua necessidades vitais atendidas - lazer, alimentação, moradia, transporte, acesso a bens culturais e outros. O trabalho já não seria um tormento, uma forma de alienação. O maior tempo livre poderia ser utilizado para o desenvolvimento integral do ser humano: artístico, filosófico, espiritual (o Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento, nos fala das primeiras comunidades cristãs que praticavam o comunismo), produtivo, participativo, relacional etc.

A própria tecnologia não estaria premida pela competição desenfreada, posto que a sociedade não mais se regeria pela busca desenfreada pelo lucro e sim pela satisfação individual e coletiva. A arte continuaria sendo um modo importante e particular de compreensão da realidade, uma "filosofia de vida", como bem disse o Lucas. Se tivermos a convicção de que as necessidades humanas são infinitas, facilmente chegamos à conclusão de que motivos não faltarão para a expressão artístico-cultural.

Os países nórdicos estão entre os que possuem os melhores Indicadores de Desenvolvimento Humano (IDHs) do planeta. Então, porque alguns deles possuem taxas tão elevadas de suicídio de jovens? Certamente as causas são diversas, mas isso demonstra que as necessidades humanas não se restringem ao acesso à educação, moradia, bons serviços de saúde etc. O ser humano é complexo, vive em busca de respostas às suas indagações, angústias e necessidades. E não é o comunismo que cerceará essa condição humana. Então, a arte e a cultura sempre terão motivações para poder renovar-se continuamente. O problema, como já disse ao Lucas, é que pensamos a sociedade comunista com os valores que temos hoje, profundamente impregnados pelas perspectivas de uma sociedade competitiva, excludente e desigual.
O comunismo é uma utopia (ver o post Utopia e Fantasia). Um projeto que pode ou não se realizar. É uma revolução econômica, política e social. Contudo, arrisco-me a afirmar que é fundamentalmente uma revolução cultural, na nossa compreensão do mundo e nas nossas relações interpessoais. Nesse sentido, não podemos imaginar que a arte e a cultura se regerão pelos mesmos parâmetros da sociedade capitalista.

domingo, 12 de junho de 2011

Dia dos namorados: amor, capitalismo e dores de cotovelo

Fala galera! A quanto tempo!

Pois é, passadas duas semanas da eliminação do meu Clube do Remo do campeonato, acho que já dá pra voltar às minhas atividades rotineiras de blogueiro. E em que dia eu resolvo voltar? O dia dos namorados!

Então vamos lá. É certo que o dia de hoje é mais uma daquelas datas que foram inventadas pelo comércio para que o mesmo possa vender mais com a gente gastando mais. É assim no dia das mães, dos pais, das crianças e de certa forma até o Natal, entre outros. Mas também é bem nítido que mesmo alguém que tem clareza quanto à essa informação, torna-se induzido a gastar o seu suado dinheirinho.

Digo isso por que esse ano tenho observado várias pessoas que eu não esperava ver esse tipo de comportamento, de ser influenciado pela data, gastando o dinheiro dos pais, ou então o seu próprio dinheiro para comprar um presente para o(a) seu(sua) namorado(a). O comportamento do dia de hoje é o mesmo dos outros dias comemorativos que citei antes: por mais que a pessoa ache a maior baboseira do mundo ter que dar presente por causa de uma data do comércio, ninguém quer fazer feio com a pessoa homenageada. E isso ganha proporções gigantescas quando a data envolve a temática 'relacionamento amoroso'.

Nayara é a mulher da minha vida.
Olha, vejam só, eu não to dizendo aqui que sou contra dar presente dos dias dos namorados (até porque eu tinha dado, nos últimos anos...). Vai até parecer que é dor de cotovelo. E pode até ser mesmo. Mas o que eu quero falar mesmo é que a mídia e o comércio tem muita influência sobre nós. Todos nós. Meu amigo Mateus Pratagy falou sobre isso no blog dele, o Veliko Valovi, que todos nós somos capitalistas de alguma forma, por mais que não concordemos com isso. E eu sinceramente acho que ele tem razão, em relação a isso. Uma das provas são essas datas comemorativas.


Interessante é notar também que tem muita gente que é totalmente influenciado por certas datas. A de hoje então, nem se fala. É frase pessoal no Msn, milhões de Tweetadas e Retweetadas, milhões de comunidades novas no Orkut (assim como no Facebook também deve ter, mas eu não sei, já que eu não o tenho ainda). Tem gente que passa o ano todinho solteiro, mas passar o dia dos namorados solteiro é pior que pegar o Marituba Paracuri 2 lotado 6 e meia da noite. Haja lamentações on-lines... E ainda tem aqueles que falam que não se importam, que bom mesmo é ser solteiro, ir pra onda, mas que nitidamente não passa de dor de cotovelo. Não vou nem dizer onde eu me encaixo nisso...


Mais uma vez o comércio. Mas que ficou bonitinho, ficou.
Se um dia eu voltar com a Nayara, eu caso com ela.
Enfim, feliz dia dos namorados pra quem tem. Lamentações pra quem não tem. Ou não. O importante é ser feliz, ou então correr atrás da felicidade. Pra quem tem, só não esqueça de comprar algo que você possa ter condições de acabar de pagar antes que acabe o namoro. ^^

Obs: Parabéns aos namorados: Lucas Ferreira (@lucasonthewing) Micaele Castro (@micaelecastro) Mateus Pratagy (@mateuspratagy) Walmi Silva (@tykinho22) Lucas Paiva (@lukeyourself) Ellen Cristina (@eellencristina) Renata Matni (@renatamatni) e Renato Marinho. Todos são os não-encalhados do ano! 0/

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Utopia e fantasia

O texto escrito pelo Tico é tão instigante que não dava pra fazer apenas um comentário, mas prometo ser breve. Vamos começar pela palavra utopia. Ontem mesmo eu li um artigo do historiador Adauto Novaes em que ele retoma o trabalho de Merleau-Ponty para afirmar que a palavra não é a forma de expressar um determinado pensamento, mas sim de evidenciar um posicionamento daquele que fala.

A palavra utopia é comumente identificada com sonho, fantasia, enfim, algo improvável de se realizar. Contudo, o sentido dela é o seguinte: o que ainda não existe. Ora, mas o que ainda não existe não pode vir a existir? A resposta é sim, mas há um porém: só pode vir a existir se o ser humano assumir um compromisso de que tal coisa se materialize de fato. Portanto, mais que uma fantasia a utopia é na realidade um projeto que precisa ser assumido por alguém. Nesse sentido, a utopia é um projeto que pode ou não se realizar. Depende do compromisso que se tem ou não com o mesmo.

Então, quando o Tico aborda os problemas da educação, das dificuldades enfrentadas pelos(as) professores(as) em sala de aula, efetivamente o que ele está nos dizendo é: essa realidade precisa ser modificada, para isso precisamos de uma nova utopia para a educação; ou seja, um outro projeto completamente distinto do atual. Agora, esse projeto somente se efetivará se pessoas como o Tico, o Alexandre, o Saulo, o Ranger, o Shuster, o Natinho, a Elen e tantos(as) outros(as) assumirem a condução desse projeto. Caso isso não ocorra, vai virar mesmo apenas uma fantasia.

Um exemplo. No início da década passada tive a oportunidade de visitar Cuba por uma semana. Como todos sabem, Cuba sofre um terrível bloqueio econômico por parte dos Estados Unidos, o que provoca enormes dificuldades ao governo e à população. Quando estive lá cada professor(a) tinha em média 11 alunos por sala de aula. Isso mesmo! Para melhorar ainda mais a educação o governo estava desenvolvendo uma grande campanha no intuito de baixar essa média para 09 alunos(as)/sala, além de distribuir gratuitamente 1 milhão de televisores às famílias residentes em áreas distantes, a fim de que estas tivessem acesso aos programas educacionais pela TV. O analfabetismo está erradicado há tempos em Cuba, mas naquela oportunidade o governo queria alcançar um objetivo bem preciso: que todas as famílias cubanas tivessem ao menos um de seus membros com curso universitário. Lembrando que em Cuba a educação é pública e gratuita.

Então, fica a pergunta: se Cuba, um país pobre, perseguido sem descanso pelo Tio Sam, sofrendo um pesado bloqueio econômico, pode fazer uma revolução educacional, por que o Brasil em situação infinitamente melhor não pode? O que nos falta? Uma das respostas foi dada pelo Tico: nos falta uma nova utopia, um novo projeto pra educação.

Para concluir, somente gostaria de ressaltar o fato que a medicina cubana e a indústria de medicamentos estão entre as mais avançadas do mundo. É muito comum encontrar em Cuba pessoas do mundo inteiro, que para lá se deslocam a fim de fazer algum tipo de tratamento. Além do mais, aquele país oferece bolsas de estudos para jovens de famílias pobres do mundo inteiro, inclusive dos EUA e do Brasil. Isto sem falar nos(as) médicos(as) cubanos(as) em missão humanitária pelos quatro cantos do mundo. Infelizmente, isso não é dito pela "grande imprensa".

Valeu Tico pelo tema abordado.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Utopicamente Real

Olá blogueiros de plantão!

Primeiramente, quero agradecer as visualizações e comentários de minha ultima postagem. Em segundo, falar das contribuições de minhas amigas Ellen e Mylene, acerca de minha ultima postagem “Simplesmente Água”. Na realidade, a minha integridade física foi ameaçada, caso não fizesse essa “homenagem” à elas.

E como sempre falo, vamos ao que interessa.

Creio que a grande maioria de vocês conhece ou possue uma idéia do significado da palavra “utopia”. Espero. Basta lembrar-se das aulas de História, em que os professores falavam do socialismo utópico. Lembraram? Se mesmo assim não rolou, aqui vai: “O ‘utopismo’ consiste na idéia de idealizar não apenas um lugar, mas uma vida, um futuro, ou qualquer outro tipo de coisa, numa visão fantasiosa e normalmente contrária ao mundo real. O utopismo é um modo, absurdamente, otimista de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas fossem”.


Acho que vocês já devem estar imaginando onde quero chegar com tudo isso, não?

Muito bem, pra quem não me conhece, informo que faço faculdade de Licenciatura em Matemática (e o kiko?) e assim como em qualquer instituição de ensino, temos bons e maus professores, matérias que gostamos e outras que não descem nem com coca-cola. Apesar de não gostar, respeito, pois fui educado assim.

Enfim, esses dias mexendo em minha mochila, encontrei algumas apostilas de matérias pedagógicas, depois de lê-las, parei e pensei: “será que isso realmente iria funcionar na minha escola do ensino fundamental?”. Galera, existe uma metodologia de ensino que tenta relacionar a matemática com o cotidiano do aluno e eu meio que sarcasticamente pensei se isso fosse aplicado na minha escola: “Bem turma, se o Zé Pequeno precisa de 15 reais e ele possui 3 petecas, a quanto ele deveria vender cada uma?”.

Não estou dizendo que todas as crianças da minha sala sabiam disso (na verdade todas sabiam sim xD) ou que não havia outros assuntos do cotidiano para explorar nessa metodologia, foi apenas uma imaginação doida. Em meio a essa imaginação de doido, lembrei de um amigo que tinha o pai como produtor e os irmãos vendedores de drogas, ou seja, o cotidiano dele era esse!!!. E ai, como trabalhar essa metodologia com ele?

1) Tentar buscar outro assunto do cotidiano dele?

2) Outra metodologia?

3) Simplesmente ignorá-lo e passar o assunto adiante sem saber se ele assimilou, afinal ele é apenas UM?


Qual das três alternativas você acha que acontece mais nas escolas do subúrbio? Na verdade não interessa muito se a alternativa 3, acontece muito ou pouco, o que interessa é que ela acontece. Em algum lugar do Brasil, no mínimo UMA criança não está tendo a mesma oportunidade que as outras e nós sabemos que não é apenas uma, isso é justo? Para o Capitalismo é.

O que estou querendo dizer é que ao fazermos algo que possui o objetivo de ajudar alguém, devemos fazer pensando na pior situação possível, pois se serve pra essa situação com certeza vai servir para as outras. ALGUMAS dessas metodologias são elaboradas por pessoas que tiveram oportunidades, para crianças que irão ter a mesma oportunidade e ALGUNS professores ao lecionar não se atentam realmente em todas as histórias de vida dos seus alunos.

Nesse momento surgem algumas indagações, como por exemplo: “Mas cara, é humanamente impossível saber a vida dos 9541587845544 alunos que o professor deve ter”. Sim, concordo. Mas em um mundo utópico o professor não precisaria dar aulas pra esses 9541587845544 alunos para conseguir se sustentar, não acham? Mas esses problemas da vida de professor vocês já conhecem e foi muito bem resumido pela professora Amanda Gurgel, nesse vídeo a seguir.


Bem pessoas, casos como o do meu amigo felizmente são minoria, mas não é por isso que eles devem ser ignorados, são esses casos que realmente precisam de todas as metodologias, todas as medidas sócio pedagógicas, toda atenção do mundo, pois se algo do tipo tivesse sido feito com meu amigo, tal vez ele estivesse vivo hoje.

Esse post tinha o objetivo de falar sobre a minoria dos alunos que são excluídos todos os dias, mas é quase impossível falar sobre isso sem tocar nesses outros temas que acabei citando no post, com certeza é muito mais complexo do que qualquer um de nós possa imaginar e prefiro deixar esses assuntos para pessoas que realmente entendem e se sensibilizam com os excluídos do nosso país.

Apesar de não parecer, tento fazer a minha parte, mas todas essas coisas que disse até hoje no blog, fazem parte de uma sociedade utópica, coisas que são ideais, mas que todos nós sabemos nunca irão acontecer de fato. Sendo assim, muitos Fulanos irão morrer por falta de oportunidades, muitos líderes camponeses irão morrer defendo os interesses da minoria, muitos loucos ainda invadirão escolas para matar crianças, muitas crianças nascerão com Aids, muitas pessoas com potencial para minimizar a situação do mundo irão desistir, morrer ou ceder. Realmente acredito que o mundo não tem jeito, até por que não querem que ele tenha jeito.

Como dizia Karl Marx:

“As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe dominante”.

E se você depois de ler tudo isso, me achou exagerado, catastrófico e não parou pra pensar sequer um minuto, parabéns. Você acha que vive em mundo utópico.