No post anterior busquei demonstrar que somente a modernização do sistema de distribuição já seria suficiente para aumentar a oferta de energia elétrica sem a necessidade de Belo Monte.
O professor Osvaldo Sevá, da UNICAMP, fez um levantamento e chegou a seguinte conclusão: se todas as hidrelétricas previstas para serem construídas até 2050 na Amazônia Legal forem efetivamente erguidas, nossa região terá naquela oportunidade cerca de 302 barragens. Isso mesmo: 302! Então, não estamos tratando apenas de Belo Monte e sim de uma estratégia que visa tornar a Amazônia numa província energética. Mas essa energia toda é pra quem? Que interesses serão atendidos? Coisas que você precisa saber:
a) Os países desenvolvidos não querem mais certas indústrias nos seus territórios, como por exemplo as eletrointensivas (o Japão está entre eles). Indústrias eletrointensivas são altamente poluidoras e necessitam de grande quantidade de energia para produzir mercadorias. É o caso, por exemplo, da Albrás (que transforma alumina em alumínio) e da Alunorte (que processa bauxita para a produção de alumínio), aqui em Barcarena. Essas empresas multinacionais são todas voltadas para a exportação, são fortemente subsidiadas (proporcionalmente essas duas empresas pagam menos que um consumidor residencial do Pará pela energia que consome - ou seja, nós bancamos a elevação dos lucros dessas empresas ao pagarmos por uma energia mais cara), geram pouquíssimos empregos, não contribuem para o surgimento de outras empresas (verticalização da produção) e ainda recebem outros beneficios que as fazem pagar menos impostos/tributos (nem o ICMS é cobrado na nossa região e sim em São Paulo ou no Rio de Janeiro; melhor dizendo, nos mercados consumidores). E o que fazem países como o Brasil? Constróem hidrelétricas para oferecer energia barata a fim de que as eletrointensivas - que os países desenvolvidos não querem - venham para cá. Ou seja, aqui ficam os pesados impactos sociais e ambientais e os outros (países ricos, grupos econômicos brasileiros e estrangeiros, as regiões Sul e Sudeste etc.) com os lucros;
b) Os grandes grupos econômicos querem alcançar três objetivos com a construção de hidrelétricas na Amazônia: 1) obter energia barata para aqui se instalarem e para exportar às outras regiões brasileiras; 2) transformar os principais rios amazônicos em hidrovias (Xingu, Tapajós, Teles Pires, Madeira e outros), a fim de que possam receber mega-navios que serão utilizados na exportação de minérios, madeira, soja, carne bovina e outros produtos da Amazônia; 3) favorecer a expansão do agronegócio na nossa região (produção de agrocombustível - dendê e outras oleaginosas - e de celulose, criação de gado e outras atividades);
c) Esse modelo de desenvolvimento tem como um de seus objetivos estratégicos o atendimento das demandas do mercado internacional. Os grandes projetos de infraestrutura na Amazônia são os meios encontrados para garantir o acesso aos recursos naturais da nossa região aos grandes grupos econômicos do Brasil e do exterior. É disso que se trata.
A energia que será produzida na Amazônia é para atender as demandas das regiões do país com economias mais dinâmicas, como o Sul e o Sudeste. E com Belo Monte não será diferente. O que ficar na região será ofertado às grandes empresas, principalmente eletrointensivas;
d) A construção de Belo Monte e de todas as usinas previstas para a Amazônia é de grande interesse de bancos (Santander, Itaú, Bradesco e outros), empresas nacionais e estrangeiras (produtoras de cimento, de turbinas, máquinas e outros equipamentos; siderúrgicas e empreiteiras, para citar algumas), dos fundos de pensão (dos trabalhadores da previdência, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Petrobrás, da Vale etc.), dos políticos e de muitos outros segmentos.
Por outro lado, você deve ter em mente um dado muito importante: as empreiteiras estão entre as que mais contribuem para as campanhas eleitorais. Esse é um dos motivos porque a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional encarregada de investigá-las jamais saiu do papel.
Voltemos a Belo Monte. O governo federal não sabe sequer dizer quanto vai custar a hidrelétrica que, se construída, será a terceira maior do mundo. Ele afirma que serão R$ 19 bilhões, mas as empresas que formaram o consórcio afirmam que custará cerca de R$ 30 bilhões. Imagine quantas campanhas não poderão ser apoiadas, isto sem falar na corrupção que certamente dará o ar de sua graça...
O problema da oferta de energia poderia ser solucionado com a adoção de outras medidas mais baratas e eficientes, entre as quais:
1) Utilizar o bagaço da cana empregada na produção do alcool e do açúcar para gerar energia. Se o bagaço que se joga fora fosse utilizado na produção de energia, seriam milhares de megawats a mais à nossa disposição, bem mais do que será gerado por Belo Monte;
2) Repotencializar as usinas antigas. Ou seja, modernizar as usinas já existentes para que elas gerem mais energia;
3) Investir na produção de energia eólica (gerada pela ação dos ventos). O Brasil possui um enorme potencial ainda inexplorado, necessitando de pesquisas e investimentos para, inclusive, fomentar uma forte industria nacional nesse setor, gerando empregos e conhecimento;
4) Investir na geração de energia solar;
5) Realizar, como ocorre nos países desenvolvidos, um vigoroso e consequente processo de educação sobre o uso sustentável da energia, a ser desenvolvido nas escolas, empresas, nas igrejas; enfim, em diferentes lugares, a fim de conscientizar as pessoas sobre como poupar energia e, ao mesmo tempo, investir na produção de equipamentos/aparelhos mais eficientes no consumo de energia, assim como estimular a construção de casas e prédios que utilizem a energia solar para iluminá-los em grande parte do tempo, ou mesmo aquecer a água durante o inverno... Alternativa é que não falta.
Essas são algumas das soluções. Outras também poderiam ser listadas. Poderíamos gerar muito mais energia para as nossas necessidades atuais e futuras sem gastar esse rio de dinheiro que querem empregar em Belo Monte, ou com as dezenas de hidrelétricas previstas para a Amazônia.
A resposta à pergunta-título do post continua a mesma: Belo Monte não é necessária. E você, concorda com isso?
Vamos concluir esse assunto no próximo post. Falaremos dos impactos sociais e ambientais de Belo Monte, e mostrar porque a Amazônia se tornou estratégica para viabilizar a expansão das empresas brasileiras no mercado internacional, bem como para tornar o Brasil uma potência.
a) Os países desenvolvidos não querem mais certas indústrias nos seus territórios, como por exemplo as eletrointensivas (o Japão está entre eles). Indústrias eletrointensivas são altamente poluidoras e necessitam de grande quantidade de energia para produzir mercadorias. É o caso, por exemplo, da Albrás (que transforma alumina em alumínio) e da Alunorte (que processa bauxita para a produção de alumínio), aqui em Barcarena. Essas empresas multinacionais são todas voltadas para a exportação, são fortemente subsidiadas (proporcionalmente essas duas empresas pagam menos que um consumidor residencial do Pará pela energia que consome - ou seja, nós bancamos a elevação dos lucros dessas empresas ao pagarmos por uma energia mais cara), geram pouquíssimos empregos, não contribuem para o surgimento de outras empresas (verticalização da produção) e ainda recebem outros beneficios que as fazem pagar menos impostos/tributos (nem o ICMS é cobrado na nossa região e sim em São Paulo ou no Rio de Janeiro; melhor dizendo, nos mercados consumidores). E o que fazem países como o Brasil? Constróem hidrelétricas para oferecer energia barata a fim de que as eletrointensivas - que os países desenvolvidos não querem - venham para cá. Ou seja, aqui ficam os pesados impactos sociais e ambientais e os outros (países ricos, grupos econômicos brasileiros e estrangeiros, as regiões Sul e Sudeste etc.) com os lucros;
b) Os grandes grupos econômicos querem alcançar três objetivos com a construção de hidrelétricas na Amazônia: 1) obter energia barata para aqui se instalarem e para exportar às outras regiões brasileiras; 2) transformar os principais rios amazônicos em hidrovias (Xingu, Tapajós, Teles Pires, Madeira e outros), a fim de que possam receber mega-navios que serão utilizados na exportação de minérios, madeira, soja, carne bovina e outros produtos da Amazônia; 3) favorecer a expansão do agronegócio na nossa região (produção de agrocombustível - dendê e outras oleaginosas - e de celulose, criação de gado e outras atividades);
c) Esse modelo de desenvolvimento tem como um de seus objetivos estratégicos o atendimento das demandas do mercado internacional. Os grandes projetos de infraestrutura na Amazônia são os meios encontrados para garantir o acesso aos recursos naturais da nossa região aos grandes grupos econômicos do Brasil e do exterior. É disso que se trata.
A energia que será produzida na Amazônia é para atender as demandas das regiões do país com economias mais dinâmicas, como o Sul e o Sudeste. E com Belo Monte não será diferente. O que ficar na região será ofertado às grandes empresas, principalmente eletrointensivas;
d) A construção de Belo Monte e de todas as usinas previstas para a Amazônia é de grande interesse de bancos (Santander, Itaú, Bradesco e outros), empresas nacionais e estrangeiras (produtoras de cimento, de turbinas, máquinas e outros equipamentos; siderúrgicas e empreiteiras, para citar algumas), dos fundos de pensão (dos trabalhadores da previdência, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Petrobrás, da Vale etc.), dos políticos e de muitos outros segmentos.
Por outro lado, você deve ter em mente um dado muito importante: as empreiteiras estão entre as que mais contribuem para as campanhas eleitorais. Esse é um dos motivos porque a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional encarregada de investigá-las jamais saiu do papel.
Voltemos a Belo Monte. O governo federal não sabe sequer dizer quanto vai custar a hidrelétrica que, se construída, será a terceira maior do mundo. Ele afirma que serão R$ 19 bilhões, mas as empresas que formaram o consórcio afirmam que custará cerca de R$ 30 bilhões. Imagine quantas campanhas não poderão ser apoiadas, isto sem falar na corrupção que certamente dará o ar de sua graça...
O problema da oferta de energia poderia ser solucionado com a adoção de outras medidas mais baratas e eficientes, entre as quais:
1) Utilizar o bagaço da cana empregada na produção do alcool e do açúcar para gerar energia. Se o bagaço que se joga fora fosse utilizado na produção de energia, seriam milhares de megawats a mais à nossa disposição, bem mais do que será gerado por Belo Monte;
2) Repotencializar as usinas antigas. Ou seja, modernizar as usinas já existentes para que elas gerem mais energia;
3) Investir na produção de energia eólica (gerada pela ação dos ventos). O Brasil possui um enorme potencial ainda inexplorado, necessitando de pesquisas e investimentos para, inclusive, fomentar uma forte industria nacional nesse setor, gerando empregos e conhecimento;
4) Investir na geração de energia solar;
5) Realizar, como ocorre nos países desenvolvidos, um vigoroso e consequente processo de educação sobre o uso sustentável da energia, a ser desenvolvido nas escolas, empresas, nas igrejas; enfim, em diferentes lugares, a fim de conscientizar as pessoas sobre como poupar energia e, ao mesmo tempo, investir na produção de equipamentos/aparelhos mais eficientes no consumo de energia, assim como estimular a construção de casas e prédios que utilizem a energia solar para iluminá-los em grande parte do tempo, ou mesmo aquecer a água durante o inverno... Alternativa é que não falta.
Essas são algumas das soluções. Outras também poderiam ser listadas. Poderíamos gerar muito mais energia para as nossas necessidades atuais e futuras sem gastar esse rio de dinheiro que querem empregar em Belo Monte, ou com as dezenas de hidrelétricas previstas para a Amazônia.
A resposta à pergunta-título do post continua a mesma: Belo Monte não é necessária. E você, concorda com isso?
Vamos concluir esse assunto no próximo post. Falaremos dos impactos sociais e ambientais de Belo Monte, e mostrar porque a Amazônia se tornou estratégica para viabilizar a expansão das empresas brasileiras no mercado internacional, bem como para tornar o Brasil uma potência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário