terça-feira, 31 de maio de 2011

Crônica de uma viagem

Assisti muito rapidamente a uma reportagem do Jornal Nacional sobre a área de fronteira entre o Brasil e a Colômbia. Do lado brasileiro, Tabatinga. Do lado colombiano, Letícia. Uma avenida liga os dois países. Estive lá de 11 a 14 de maio participando de um seminário internacional na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a convite do Projeto Nova Cartografia Social, coordenado pelo antropólogo Alfredo Wagner. Foi a segunda vez que fui a Tabatinga.

Muitas coisas me impressionaram a começar pelo grande número de motos que circulam por Tabatinga e Letícia. É incrível. No horário de pico fica difícil atravessar a principal avenida de Tabatinga e o barulho é grande. O trânsito em Letícia está melhor organizado, já em Tabatinga a situação é mais complicada.

Lembro que da primeira que fui àquela região a maioria dos motoqueiros brasileiros não usava capacete. Contudo, o uso desse equipamento era obrigatório do lado colombiano. Então, quando um brasileiro seguia rumo a Letícia dava uma rápida parada na barreira do Exército da Colômbia, aí um monte de crianças e adolescentes aparecia com capacetes nas mãos para alugar. O motoqueiro e o carona pegavam o equipamento e partiam. Não se assinava qualquer papel e nem se exigia documento. Era tudo muito informal. Quando do retorno de Leticia se fazia outra parada, agora para devolver o capacete e pagar cerca de R$ 1,00 pelo aluguel. Hoje, o uso de capacete é também obrigatório do lado brasileiro. Aquela frenética movimentação na barreira acabou.

É muito curioso os chamados "tuc-tuc": taxis coletivos colombianos. Com 8.000 pesos - o equivalente a R$ 8,00 - fiz um passeio interessante pelo centro comercial e no cais de Leticia. Algumas ruas do centro encontravam-se alagadas, pois o nível do rio Solimões estava elevado, mas não o suficiente para cobrir o cais.

Leticia é uma bonita cidade. Por ser zona franca é possível comprar equipamentos ou perfumes, entre outros produtos, bem mais baratos do que no Brasil. Um perfume de grife que no nosso país se compra por R$ 200,00 lá é possível ser adquirido por R$ 70,00 (ou menos).

Outra coisa fascinante é a quantidade de indígenas que circulam pelas ruas duas cidades, principalmente jovens. São muitos indígenas que estudam em escolas de ensino fundamental e médio, bem como nos campus das universidades de Tabatinga (estadual), de Benjamin Constant (federal) - distante cerca de 20 minutos de voadeira - e de várias instituições públicas e privadas de Leticia. São índios de diversas etnias. A população em geral tem traços indígenas muito fortes: os cabelos, a cor da pele, os olhos. É uma mistura muito bonita.

Já nas áreas dos portos a movimentação é frenética de passageiros, cargas e embarcações. O Peru também faz fronteira com Colômbia e Brasil. É possível enxergar a comunidade peruana de Santa Rosa do porto de Tabatinga.

Os problemas também são muitos naquela região: não há empregos suficientes, os serviços públicos são deficitários, infraestrutura precária, conflitos fundiários, tráfico de drogas, assassinatos etc. Leticia e Tabatinga são cidades médias com todos os problemas de uma metrópole, como comumente ocorre com a maioria dos municípios amazônicos. Por sua vez, o rio Solimões é lindo. O por-do-sol é fantástico e a floresta exuberante.

Já tive oportunidade de conhecer outras áreas de fronteira como Oiapoque (Amapá) na divisa com a Guiana Francesa, e Guajará-Mirim (Rondônia), com a Bolívia. São realidades completamente diferentes das que vivenciamos em cidades como Belém, por exemplo. Posso afirmar a vocês que vale a pena entrar em contato com esse "outro" Brasil, cujas populações merecem respeito e atenção.

Um comentário:

  1. Minhas aventuras fora do país ainda são bem singelas, mas é realmente incrível ver como certas coisas são tão parecidas, mas tão diferentes ao mesmo tempo, em diferentes tipos de culturas.

    Isso que é bacana de viajar, perceber esse tipo de coisa. ^^

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