quarta-feira, 25 de maio de 2011

Belo Monte é necessária? - Parte III

Olá. Estamos de volta para tratar do assunto hidrelétrica de Belo Monte. Buscamos mostrar no post anterior que há muitos interesses envolvidos nesse projeto, abarcando uma variedade de segmentos do Brasil e do exterior. Também evidenciamos que há alternativas mais baratas e eficientes para gerar a energia que o Brasil precisa sem a necessidade de construir Belo Monte. Então, do ponto de vista técnico, não há razão para erguer a usina. Todavia, o problema não é técnico e sim político e mesmo ideológico.

Vivemos numa sociedade fundada no consumo excessivo e no desperdício. Nossa relação com a natureza é de dominação, de sujeição. Enfim, a vemos como uma coisa que precisa ser domada a qualquer custo. Ocorre que os recursos disponíveis na natureza são finitos. Portanto, somente a mudança profunda do modelo de desenvolvimento será capaz de compatibilizar nossas necessidades com a capacidade da natureza de nos satisfazer.

Lá no fundo é essa concepção dominadora que orienta a construção de centenas, eu disse centenas, de hidrelétricas na Amazônia. De acordo com a lógica dominante, é preciso colocar esta região sob o controle do capital, fazê-la produzir proteinas animal e vegetal em grande quantidade para atender prioritariamente a demanda internacional, gerar energia para os centros econômicos mais importantes do país e exportar recursos naturais (água, madeira e minério, por exemplo) em volume crescente.

A visão que os grupos dominantes têm sobre a nossa região não mudou muito ao longo da história do Brasil: somos vistos como um território despovoado, atrasado e desconectado do restante do país. Então, segundo essa percepção, é preciso que a Amazônia seja ocupada, dominada e integrada ao restante do território nacional - tal como afirma a professora Violeta Loureiro (UFPA). Daí o motivo da retomada da construção de mega-empreendimentos na Amazônia, como Belo Monte.

Além do mais, ao Estado brasileiro e às elites que o controlam interessa garantir que o nosso país se afirme como uma potência regional, que consolide sua hegemonia política, econômica e cultural na América do Sul. E a Amazônia é estratégica para que esse projeto se viabilize.

Nossa região faz fronteira com seis países (Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname) mais o Departamento Ultramarino da Guiana Francesa (uma colônia francesa, a única nesta parte do continente). Tal situação é vista pelo Estado brasileiro e pelas grandes empresas nacionais e estrangeiras como uma grande oportunidade para a integração econômica sul-americana, à viabilização da livre circulação de mercadorias e de investimentos.

Nessa estratégia é fundamental garantir o controle dos recursos naturais dos países vizinhos por empresas brasileiras, associadas ou não ao capital internacional, e, por outro lado, garantir a circulação de mercadorias brasileiras até os grandes mercados consumidores, como o asiático.

A construção da usina de Belo Monte, assim como de outros grandes empreendimentos (estradas, oleodutos, gasodutos, linhas de transmissão etc.) acabam se constituindo também numa plataforma para a internacionalização de um número cada vez maior de empresas brasileiras que, capitalizadas, entram nos mercados vizinhos adquirindo companhias locais; controlando, assim, parcelas significativas desses mercados. Portanto, a integração que se pretende alcançar com empreendimentos como Belo Monte é fundamentalmente dos mercados. Uma integração entre desiguais, já que as disparidades entre as economias sul-americanas são profundas.

A hidreletrica de Belo Monte, tal como os outros empreendimentos previstos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e pela Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), tem o poder de transformar profundamente os territórios onde são instalados: a) a terra é concentrada nas mãos de poucas pessoas e empresas; b) aumenta a pressão sobre as terras indígenas e áreas de preservação; c) ocorre a expulsão de ribeirinhos, extrativistas, agricultores(as) familiares e outros segmentos de suas áreas, aumentando o êxodo para as periferias urbanas; d) o conflito é disseminado pelo território, e; e) instalam-se atividades econômicas fortemente vinculadas ao mercado internacional, entre outras consequências.

A foto acima foi tirada durante o conflito envolvendo trabalhadores(as) da hidrelétrica de Jirau, empresas e polícia, em Rondônia, que se revoltaram contra as péssimas condições de trabalho, parecidas aos do regime de escravidão. Longe de ser um problema amazônico, essa situação foi encontrada em um número expressivo de obras do PAC espalhadas pelo país, inclusive em São Paulo.

Quando falamos de Belo Monte necessariamente estamos nos referindo ao conjunto de questões levantadas nos três posts. Não temos como separar Belo Monte desse contexto. Reafirmamos nossa posição de que essa hidrelétrica não é necessária e que sua construção visa atender tão somente poderosos interesses econômicos e políticos de segmentos do Brasil e do exterior. Não há justificativa para que essa usina seja erguida. Todavia, a decisão, como dissemos, é política e não técnica.


Por fim, uma questão necessita ficar muito clara para todas as pessoas que estão lendo este post: precisamos mudar radicalmente nossos padrões de produção e de consumo. Sem isso, muitas outras Belo Montes serão defendidas e erguidas na nossa região. As consequências desse processo tendem a ser nefastas a todos e todas, morando ou não na Amazônia...

3 comentários:

  1. Ai, ai... pega a senha do Lasanha Pai e administra logo o blog =D

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  2. Padrão de qualidade #LasanhaComFarinha. Excelente desfecho. A prova de que o Governo Petista sempre esteve longe de ser Socialista.

    É uma questão política e ideológica sim, é nítido isso. E realmente, concordo que muita gente não tá nem aí pra Belo Monte porque acha que as consequências não vão atingir suas humildes residências... Puro engano...

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  3. ...Pura ignorância e/ou ingenuidade dessas pessoas que acham que a "realidade" de Belo Monte estará longe da sua realidade.
    É a falta de interesse com as consequências perante às inúmeras vantagens políticas envolvidas. É também uma população descompromissada com o próprio rumo.
    É engrenagem do "PROGRESSO".
    Enfim?

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